1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 470
ascenso democrático de 62/63, o movimento dos sargentos ganhou
maior expressão, sendo fortemente motivado pela luta em torno
da exigência de lhes ser concedido o direito à elegibilidade.
Como aconteceu em geral, houve, no entanto, uma
superestimação da envergadura do movimento e do nível de consciência da massa dos sargentos. A medida de tal exagero era dada por
afirmações que então circulavam: "os sargentos são a liderança da
revolução brasileira", "os sargentos impedirão qualquer golpe
reacionário" etc. Além desse erro de apreciação, que contaminou o
conjunto das forças progressistas, a luta dos sargentos foi levada a
uma extemporânea radicalização. Tratava-se de um movimento
que não dispunha de experiência de luta e que foi envolvido, pela
primeira vez, numa complexa situação. Viu-se, assim, um pequeno
grupo de sargentos lançar-se em ações prematuras, como o
"protesto de Brasília" e a luta dos marinheiros, na antevéspera do
golpe (quanto a essa ação, que serviu de estopim para o golpe de
Estado, não resta dúvida que foi conscientemente provocada pelo
Almirantado, que criou o clima para o esmagamento da luta democrática e reivindicatória dos marinheiros, que ainda vivem numa
situação humilhante, pouco diferente da que existia na época da
revolta de João Cândido). De outro lado, desde que a grande maioria dos sargentos não acompanhou alguns dos seus líderes, que se
haviam colocado numa posição "ultraesquerdista", verificou-se a
ruptura da unidade interna do movimento. Assim, o clima político
dominante naquela quadra da vida brasileira, repercutiu
intensamente dentro das Forças Armadas, especialmente entre os
sargentos, criando situações e problemas novos. E enquanto os
reacionários deram um tratamento sério à questão, buscando
desesperadamente "restabelecer a ordem" nas Forças Armadas (o
que, afinal, conseguiram), as forças progressistas agiram de forma
quase infantil, desde que havia nelas quase que tão somente a
preocupação de "agitar" os sargentos.
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1964 – As armas da política e a ilusão armada