1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 468

cista. Afirmando que essas mazelas são uma decorrência da velha estrutura societária brasileira, por omissão deixaram que popularmente ficasse a impressão de um acordo tácito entre os homens progressistas e os corruptos. É certo que os poucos homens verdadeiramente progressistas que chegaram a exercer cargos executivos deram uma demonstração de irrepreensível conduta no trato das coisas públicas. Exemplos: Miguel Arraes, Almino Afonso, Roberto Morena etc. É fora de dúvida que as correntes progressistas não podiam ter o mesmo tipo de comportamento que os "vestais" da UDN, que sempre fizeram um farisaico combate à corrupção, pois colocadas longe das posições do poder. Além do mais, essa sempre foi a invariável arma contra governantes que assumiram posições nacionalistas. Mas, as correntes progressistas deveriam ter visto que a repercussão popular das bandeiras de luta contra a corrupção e os maus administradores traduzia uma aspiração legítima de criar-se um Estado que não seja fonte de privilégios para nenhum indivíduo. Era necessário que se entendesse que grandes faixas populares apoiam a luta contra a corrupção menos por razões moralistas do que pelo anseio de eficiência estatal. Núcleos importantes das camadas médias, especialmente entre estudantes e a intelectualidade, assumiram, porém, nítida posição ao lado das forças progressistas. Foi impressionante a transformação da juventude de 1945 e 1964. Enquanto no fim da guerra a juventude estudantil apenas era motivada pela luta em favor das liberdades, de 1961 em diante ficou claro o engajamento da mocidade universitária no combate pelas modificações estruturais na sociedade brasileira. O pensamento dos estudantes era em favor das teses nacionalistas. Passaram a exercer uma importante influência política fora das escolas, tornando-se daquelas ideias ativos propagandistas. A reação procurou fazer crer que o grosso dos estudantes nada tinha a ver com tais atitudes, o que não é confirmado pelos fatos posteriores, pós-"revolução", desde que a mocidade acadêmica sempre manifestou seu repúdio aos novos governantes do país. 466 1964 – As armas da política e a ilusão armada