1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 458
Nos últimos meses, antes do golpe de Estado, havia se tornado
mais aguda a contradição entre a grande massa despossuída do
interior e a minoria privilegiada que monopoliza a terra. Os camponeses começaram a despertar para a luta em consequência do
movimento democrático urbano pela reforma agrária. A atividade
do governo Goulart, pelo seu ineditismo, contribuiu também decisivamente para tal despertar. Sentindo que o terreno iria fugir a
seus pés, a reação rapidamente se articulou visando a matar no
nascedouro o movimento camponês de massas. Daí a intensa
mobilização dos grandes fazendeiros, a partir de março de 1963,
em função do golpe de Estado. De objetivos preventivos, o putsch
militar, ao desencadear-se, não podia encontrar como não encontrou, um movimento camponês organizado.
Nas cidades, a luta da classe operária vinha ampliando-se
desde 1952. Com o crescimento do movimento sindical, a maioria
dos sindicatos foi expelindo os velhos pelegos que haviam dominado
as organizações operárias durante o Estado Novo. Toda uma geração recém-formada de líderes operários foi se forjando, fazendo
com que muitas organizações sindicais se tornassem fortes. As lutas
reivindicatórias viraram um fato corriqueiro, especialmente as
campanhas por reajustamento salarial, o que também era uma
decorrência natural do clima inflacionário e não eram reprimidas
pelos patrões. Fato interessante observava-se em algumas empresas
estrangeiras de São Paulo, que se antecipavam às exigências dos
sindicatos, elevando os salários e tangenciando conflitos com os
trabalhadores. De forma generalizada, os industriais e comerciantes
apenas negociavam em torno do nível de elevação, pois reconheciam como normal a exigência do reajuste salarial.
A ascensão do movimento sindical se dava, no entanto,
dentro de determinados limites. Sob dois aspectos, pouco avançou. O primeiro se refere ao caráter de cúpula do movimento. Com
exceção de determinadas categorias, que dependem do sindicato
para trabalhar (estivadores e marítimos) ou de algumas outras
mais politizadas (ferroviários da Leopoldina, por exemplo), a
maioria dos operários ficou à margem da sindicalização. De outro
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