1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 456
Pela primeira vez em nossa história, o país tutor e opressor
sentiu que um governo brasileiro dava ares de emancipado, indicando que cedo cortaria as amarras que nos prendem aos Estados
Unidos. Por tudo isso, agravou-se extraordinariamente a contradição entre a nação brasileira e o imperialismo norte-americano.
Esse um dos pontos básicos da inquietação reinante durante o
governo Goulart. Esse um dos nós da crise política que teve sua
solução no golpe de Estado.
Enquanto isso, na vida brasileira, um assunto proibido caiu
no centro das discussões: “reforma agrária”. Velha exigência dos
homens progressistas, sempre negada pelos defensores do status
quo, a questão agrária agitou os quatro cantos do país. Resultante
menos da ação vigorosa das massas camponesas do que da campanha dos democratas das cidades. O ascenso das lutas camponesas,
entretanto, era visível. O movimento das Ligas, em Pernambuco e
na Paraíba, de um momento para outro, ganhou repercussão
nacional. Face à imobilidade de antes, representava um início
promissor, não obstante ter havido geral superestimação da força
e do poderio das Ligas.
Em várias regiões, os explorados deram provas de vontade de
luta contra os dominadores seculares. Em algumas, verificou-se até a
resistência de posseiros à ação dos grileiros (zonas em Goiás, Santa
Catarina, Estado do Rio, Maranhão, Mato Grosso e Minas Gerais).
Na Zona da Mata, em Pernambuco, os assalariados rurais das usinas
de açúcar começaram a formar sindicatos com milhares de associados, sendo o maior deles o da cidade de Palmares, com mais de trinta
mil sócios. A sindicalização rural alcançava grande impulso, durante
o ano de 1963, culminando com a formação da Confederação Nacional dos Trabalhadores Agrícolas, em dezembro daquele ano.
Iniciava-se a organização da massa camponesa em torno da
luta por algumas reivindicações bem elementares, e o sucesso de
Julião advinha de uma conduta inicialmente correta (porque ao
nível da compreensão e da organização dos lavradores) de defesa de
nos últimos meses de 1963.
454
1964 – As armas da política e a ilusão armada