1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 450

Prova isso seu comportamento nos últimos meses de 63 e no primeiro trimestre de 64. Quando já se encontrava numa atitude de ruptura com forças tradicionais, buscando sem pestanejar a colaboração das forças populares, adotou medidas que contrariavam teses das correntes progressistas, jogando por terra medidas positivas encaminhadas pelo prof. Carvalho Pinto, em sua curta passagem pelo Ministério da Fazenda. Dois atos importantes suscitaram, para exemplificar, viva desconfiança nos meios progressistas: a abertura de negociações para o reescalonamento das dívidas do Brasil com seus credores em bases confusas, e a Instrução 263, que liberalizou o câmbio, provocando repentina desvalorização do cruzeiro. Ante a repulsa de elementos representativos das correntes populares, Goulart manifestou seu propósito de revê-las, o que demonstrava a insegurança na condução da política oficial em assuntos de extrema delicadeza. O desnorteamento era visto a olho nu e redundava em maior enfraquecimento do governo. É certo que, por trás de tudo, desenrolava-se a conspiração dos altos círculos financeiros, profundamente contrariados com o curso dos acontecimentos. No centro da oposição dos meios empresariais aos governantes via-se a constelação que gira em torno das empresas estrangeiras, assustada com várias providências que representavam uma política global nacionalista diante do capital estrangeiro. Os elementos mais importantes dessa política eram: o estudo e a ulterior regulamentação da famosa lei da remessa de lucros; as providências administrativa e judiciária para a anulação das imorais concessões ao grupo Hanna; a sustação, em junho de 1963, dos entendimentos para a compra do acervo da Amforp (velha reivindicação do Departamento de Estado, sob a desculpa de eliminar-se as áreas de atrito); as medidas no terreno do petróleo (monopólio de importação de óleo cru pela Petrobrás e distribuição direta dos derivados aos órgãos estatais); a intensificação do comércio com os países socialistas etc. Cabe, aqui, de passagem, esclarecer um ponto que tem sido confundido. Depara-se, de forma generalizada, com a afirmativa de que os capitais estrangeiros fugiram do Brasil em consequência 448 1964 – As armas da política e a ilusão armada