1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 444
poder se deu em condições muito difíceis. A ditadura impôs sua
política a ferro e fogo. Particularmente nos últimos meses de 1970,
às vésperas das eleições e após o sequestro do embaixador da
Suíça, desencadeou-se uma torrente de abusos, violências e crimes
contra a população. Os direitos mais elementares, como o de locomoção, de andar nas ruas da cidade, e o da inviolabilidade do
domicílio, são violados da maneira mais brutal. O trabalhador
sente que não tem sequer a garantia de voltar livremente para sua
casa. Artistas, estudantes, professores, advogados, jornalistas e
militares reformados são sequestrados e presos, submetidos a
violências e humilhações.
A liberdade de imprensa sofre novos atentados. A cultura é
sufocada pela censura a livros, a filmes, ao teatro. Cai assim na
rotina o emprego, pela ditadura, do arbítrio e do terror como
método de governo. É o Estado policial.
Mas, se a acentuação do caráter repressivo pode propiciar
alguma vantagem imediata à ditadura, o certo é que a isola ainda
mais do povo, amplia áreas de resistência, de oposição e de
combate, fato que influi no sentido do seu enfraquecimento.
Conforme salientou o Comitê Central do nosso Partido, fatores
temporários têm favorecido, por enquanto, o avanço do processo
de fascistização do país, mas é em sentido contrário que atuam os
fatores permanentes que a médio e longo prazo terminarão por
preponderar, no processo político brasileiro.
Os resultados concretos da política econômico-financeira
realizada pela ditadura mostram que essa política se subordina aos
interesses dos monopólios estrangeiros e dos latifundiários, e
contraria os interesses da maioria da nação. “A economia vai bem,
mas o povo vai mal”. Isso foi dito com todo o cinismo pelo próprio
ditador. A continuidade na aplicação dessa política faz com que o
povo vá de mal a pior, gera cada vez mais o descontentamento de
amplos setores da população. Aí está a base objetiva em que se apoia
a ação das correntes democráticas e progressistas. Não foi por acaso
que, no ano passado, os Congressos de trabalhadores unanimemente condenaram a política salarial imposta pelo governo e exigi442
1964 – As armas da política e a ilusão armada