1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 434
Devemos partir de ações parciais, em todos os níveis do
movimento de massas ou dos acordos de cúpula, a fim de conseguir que aquele sentimento passivo vá tomando forma, pouco a
pouco, até se transformar num grande movimento nacional, em
frente única, que englobe os sindicatos, o movimento estudantil, a
Igreja Católica, os partidos e os políticos da oposição – um movimento que expresse, em nível superior, a rebeldia brasileira contra
o processo de fascistização do país. Cabe salientar, em relação ao
esforço destinado a impulsionar a luta de resistência, nas condições atuais, a valorização a ser dada às pequenas ações, mesmo nos
casos em que estas só indiretamente se oponham às medidas da
ditadura. O que não podemos é condenar a oposição ao imobilismo, na espera das grandes tarefas ou do dia supremo. A constante preocupação em descobrir e organizar a resistência concreta
das massas contra determinados atos do regime ditatorial é o
melhor antídoto para evitar os apelos à luta abstrata ou à resistência indeterminada. Desses apelos ao palavrório radical desligado
de qualquer objetivo real, basta apenas dar um passo.
Os protestos contra o ato do governo que instituiu a censura
prévia à publicação de livros e periódicos são um exemplo atual e
palpitante de resistência concreta.
Há, na luta de resistência limitada da fase atual, o risco de o
Partido desprezar sua estratégia. Mas isto será evitado desde que
subordinemos as ações de resistência ao objetivo central de formação de uma frente única nacional antiditatorial. Assim, o Partido
será resguardado e não incorrerá no erro de minimizar sua ideia
estratégica, “diluindo-a em uma tática quase cotidiana”.
Trata-se, agora, de incrementar e multiplicar o aparecimento
de focos políticos de resistência, a fim de romper com a passividade
das massas e passar da defensiva à ofensiva, até atingir o ponto em
que se coloque na ordem do dia o ataque geral contra a ditadura.
É nesse momento que se dará o fim do processo de fascistização, com a liquidação da ditadura:
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1964 – As armas da política e a ilusão armada