1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 423
mais tempo. O difícil é avaliar até onde irão as possibilidades desse
bonapartismo sem um Bonaparte.
Ao lado das contradições já referidas, cabe, finalmente, assinalar mais uma. Em nível mais elevado que os seus antecessores, o
governo Garrastazu sofre as consequências da divisão do suporte
militar da ditadura. À medida que passam os dias e que as Forças
Armadas continuam como centro das decisões políticas importantes, maiores são os conflitos que as dilaceram. Grosso modo, a parte
mais ativa da oficialidade, que participou do golpe de 1964, principalmente do Exército, divide-se hoje em dois grupos principais: um
deles, englobando talvez a maioria, é formado pelos partidários de
um nacionalismo autoritário, e o outro, que dispõe de maior parcela
de poder, reúne os que se mantêm aferrados aos dogmas entreguistas e reacionários da ESG. O primeiro grupo tende a crescer e a
romper, de dentro, a unidade do bloco militarista reacionário. Isto
determinará, obviamente, uma convergência da ação dessa força
com a do movimento nacionalista democrático da oposição. É necessário, no momento de uma apreciação mais concreta, não esquecer
que, entre um grupo e outro, existem, nas Forças Armadas, correntes de várias nuances, além de uma enorme massa – possivelmente
a maioria – de oficiais indecisos e indiferentes.
É dentro desse quadro que o general Garrastazu terá de
enfrentar as próximas eleições de governadores, para o Congresso
Nacional, Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais. “A disputa
eleitoral – diz o JB – não será evidentemente capaz, por si mesma,
de aplainar as contradições; muito pelo contrário. Pode-se esperar
que as dificuldades se criem”.
Em alguns dos estados mais importantes – SP, GB, MG, BA
– o partido oficial, a Arena, até agora não conseguiu unir suas
forças, e o general-presidente ameaça impor seus candidatos,
vetando aqueles que não lhe agradam, numa ação que já se convencionou chamar de “cassação branca”. O governo, que num arroubo
demagógico prometeu fazer o “jogo da verdade”, age com cautela
nesse terreno, a fim de não provocar desarranjos no precário
sistema de forças políticas em que se apoia.
Resolução Política do Comitê Estadual da Guanabara do PCB
421