1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 39
1956, um conturbado processo de renovação, aberto, no conjunto
dos partidos comunistas de todo o mundo, com a denúncia dos
crimes de Stalin no XX Congresso do PCUS, em fevereiro de 1956.
É raro ou, na prática, impossível o caso de uma corrente de opinião
significativa que não tenha referências internacionais; e, para os
partidos comunistas, em particular, nascidos no quadro de um
desafio global à ordem capitalista, o vaivém analítico entre as realidades nacionais das quais nasceram e os problemas gerais do
movimento assumidamente internacional em que se inseriam – tal
vaivém, repetimos, é um pressuposto para a compreensão minimamente coerente do sujeito político.
Assim é que no PCB, como nos demais PCs, aquele processo
de renovação não foi propriamente radical nem eliminou todo o
“sectarismo burocrático”, que, segundo conhecida afirmação de
Lukács, constituía uma característica típica do stalinismo. Por
certo, a situação de ilegalidade formal, ainda que substantivamente mitigada durante o governo de Juscelino Kubitschek e,
particularmente, o de Goulart, não era a mais adequada para um
efetivo aggiornamento político e intelectual. Mesmo levando em
consideração estes e outros limites, o período em questão da trajetória pecebista sem dúvida se caracteriza por um distanciamento
gradativo da marca de um partido “ideológico”, no sentido negativo da palavra, clandestino e militarizado, fortemente centrado
sobre si mesmo e alheio à agenda real da sociedade brasileira.
Com a Declaração de Março de 1958, o PCB estabeleceu alguns
parâmetros que norteariam sua visão no decorrer das tempestades
que se seguiriam. Assim, por exemplo, naquilo que então se considerava generalizadamente como a revolução brasileira em curso,
para o PCB o horizonte imediato não deveria ser o da revolução
proletária e do socialismo, mas sim o da revolução “nacional e democrática”. Por ser nacional, poderia contar com a burguesia nativa,
pretendidamente interessada numa forma mais autônoma de capitalismo, baseada em forte presença estatal; e, por ser democrática,
apelaria à reforma agrária radical, golpeando o latifúndio improdutivo, aliado interno do imperialismo e principal beneficiário da
As esquerdas, a ditadura e o problema da frente democrática
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