1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 376
regime de estabilidade. Com a desculpa de que o Brasil precisava
crescer, a maior parte da população era impelida a trabalhar mais.
A partir de 1974, a ditadura começou uma fase que ficou conhecida como distensão. Retornava o discurso da democracia relativa e a
oposição ganhava força novamente, mas as medidas autoritárias
continuavam vigorando e raramente recuavam. A crise de hierarquia
das forças armadas é uma questão interessante nesse contexto, pois
oficiais de baixa patente haviam adquirido poderes paralelos e conseguiam controlar informações e efetuar prisões sem que estas ações
tivessem sido ordenadas pelas altas patentes do Exército. A morte do
jornalista Vladimir Herzog é bem representativa, pois ela ocorreu no
mesmo momento em que o governo alegava que a repressão era
necessária, mas que deveriam ser evitadas violências inúteis. Isto não
significa dizer que o governo desejava a abertura, e sim que ela tinha
avanços e recuos significativos. O Pacote de Abril, lançado em 1977,
demonstrou claramente a necessidade de se manter o controle do
Congresso e da governabilidade, pois mudou-se o critério de representabilidade nas eleições para favorecer os estados do Nordeste e,
com isto, o partido que apoiava o governo.
A política de conciliação foi a bandeira do final do regime
militar, pois se a anistia autorizou o regresso de exilados com seus
direitos políticos, ela também protegeu os responsáveis pelos abusos
de poder e de tortura, o que vetou a possibilidade de as famílias
procurarem seus entes desaparecidos. A famosa reforma partidária
também deve ser pensada, pois, ao liberar a criação de vários partidos, a medida provocou divisões na oposição formal que até então
era representada somente pelo MDB. Nas eleições de 1982, a oposição teve seus votos divididos, e a isto somaram-se as novas regras de
representatividade, que faziam com que o Nordeste tivesse mais
deputados e o governo permanecesse com a maioria no Congresso.
A transição democrática ganhou vulto a partir de 1979; a
pressão dos movimentos de base com apoio da Igreja Católica, as
conquistas do movimento sindical nas negociações coletivas e o
surgimento do Movimento Sem Terra explicitavam que a oposição
ao regime ganhava força, ao mesmo tempo em que o tão sonhado
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