1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 373

O golpe militar de 31 de março se inscreve nessa história; foi um ato agressivo de mobilização político-militar que teve como maior objetivo romper com o movimento de ascensão política das classes populares. O Brasil vinha, desde 1930, desenvolvendo uma política essencial para o processo político capitalista, a saber, a personalização da política por meio da esperança em líderes. O populismo teve campo fértil entre as décadas de 1930 e 1960, justamente porque havia uma crise crônica de poder e, portanto, uma consequente necessidade do Estado de mobilizar as classes trabalhadoras, a fim de controlar a instabilidade política proporcionada pela crise. Dentro deste contexto, esta prática política transforma o Estado em mediador, pois mantém uma base urbana de apoio social juntamente com uma política industrializante. O Estado populista intervém desta maneira nas relações de classe, integrando politicamente a classe operária, mas ao mesmo tempo privando-a de autonomia. Deste período, existem dois pontos que devem ser pensados para entendermos nossas heranças: do lado das classes dominantes, os agroexportadores não tinham mais poder suficiente para governar, e tampouco os industriais eram fortes o bastante. Assim, nós tivemos uma política industrializante, mas que, em nenhum momento, questionou a ordem da grande propriedade fundiária. Do lado das classes trabalhadoras, verificava-se a organização de uma pressão efetiva, o que permitia a expressão dos trabalhadores por meio da organização de movimentos sociais e partidos políticos. Pensando no crescimento efetivo desta pressão, devemos perceber que as classes dominantes são extremamente unidas no sentido de reprimir qualquer movimento de ruptura com o sistema; daí compreende-se o porquê do uso do golpe militar como solução contra o emergente movimento. O governo militar discursava em nome da Segurança Nacional, dizendo proteger o país do perigo comunista. Em primeiro lugar, os grupos organizados para a derribada do presidente João Goulart tinham no anticomunismo um denominador comum; porém, estes vitoriosos eram bastante heterogêneos, tanto dentro do exército como entre os civis que haviam apoiado o golpe. Já no Que país nos deixaram de herança? 371