1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 363
tante, simbolizando que enquanto um companheiro tombava, um
outro surgia, bem à vista dos opressores.
Ressaltamos que, de um lado, temos exemplos como de Crimeia,
de outro várias mulheres decidiram pelo aborto, pois ter filhos e participar de um movimento como o da luta armada pareciam tarefas inconciliáveis. Como a esquerda, as mulheres também estavam divididas
entre ter ou não filhos. No depoimento do filho de Crimeia, é notório
como a criança se sente responsável pela continuação da luta.
Ainda com relação ao perfil da esquerda armada, um tema
que resgata um pouco de sua dimensão ética e moral é o justiçamento, a execução como ato de justiça revolucionária.
A violência revolucionária não poderia ser um fim em si
mesmo. Não poderia ser absoluta e incondicionada. Os revolucionários praticavam a violência não somente dentro de certas condições políticas, mas também conforme os princípios de um código
de ética que visava preservá-los da corrupção moral.
Assim, justiçavam-se inimigos e também companheiros
acusados de traição. Houve justiçamentos por suposição de intenção, por delação efetiva e por traição. Muitos dirigentes, como o
próprio Lamarca, condenavam o justiçamento, mas o enxergavam
como necessário para a preservação moral dos militantes.
A tortura tem sido temática bastante discutida no período
posterior à ditadura. È comum encontrarmos, na mídia, reportagens que tratem do tema. Vera Silvia Magalhães na citada entrevista, em relação à tortura diz:
A tortura é uma razão de Estado, sempre foi. É uma política de
Estado. No filme, nos deparamos com o torturador imediato, mas
no livro de Fernando Gabeira [O que é isso companheiro?] surgem
as Forças Armadas como uma força que defendia o país, matando
aqueles jovens, torturando. Nesse sentido, o que deve ser questionado é não apenas o torturador imediato, mas a política de Estado
que causa malefícios físicos e psicológicos.6
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PATRIOTA, Rosangela. Op. cit., p. 108.
Violência na ditadura contra mulheres
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