1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 36

Até porque democracia é isso, não são os excessos, evidentemente, mas um processo de educação, do próprio movimento social, e também de controle que se tem que ter da máquina policial e do sistema de repressão e de coação, que pode ser democrático e pode transbordar e ter aspectos abusivos. Vamos coibir os excessos, vamos nos educar para essa prática democrática, mas não vamos ter medo de uma manifestação. E, particularmente, das manifestações dos excluídos, dos oprimidos, até porque esses nunca tiveram tanta oportunidade como agora que o regime democrático está ofertando. Porque sempre foram reprimidos. É claro que não se pode admitir, por exemplo, a invasão de prédios públicos, a quebra de agencias de bancos e de outras empresas comerciais, a queima de ônibus e de outros tipos de veículos. E muito menos agredir ou matar pessoas. Isso não é prática de nenhum movimento social que queira aprofundar a democracia. E os governos federal e estaduais precisam ter a capacidade de saber como resguardar a ordem pública, sem ir para a repressão com abuso e, inclusive, com mortes, como tem acontecido também, o que é inadmissível. Esperamos que a ditadura, definitivamente, tenha sido varrida da nossa história como experiência. A democracia, como já se disse, talvez tenha muitas imperfeições, mas nada melhor foi inventado para ocupar o seu lugar. E olha que venho de uma tradição, a marxista, que, em épocas distantes, chegou a acreditar em uma ditadura, de classe, a do proletariado. 34 1964 – As armas da política e a ilusão armada