1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 345

relação àqueles considerados inimigos do regime. Neste sentido, podemos dizer que as pesquisas avançaram significativamente em relação à repressão e à violência que foi desencadeada contra os grupos de esquerda opositores da ditadura, além da discussão sobre a fragilidade no processo de construção, manutenção e ampliação dos direitos humanos na sociedade brasileira. Contudo, trabalhamos com a hipótese de que, em um regime ditatorial, a repressão e as arbitrariedades encetadas pelo Estado não ficam circunscritas a um segmento social, mais ainda de que o alvo dos generais fosse somente os grupos de esquerda que se opuseram ao regime militar. Isto porque o ideário das forças que lideraram o golpe civil-militar em 1964 era de que, em países como o Brasil, pertencente ao bloco de países de Terceiro Mundo, as estruturas políticas eram instáveis, logo, os processos diretos de agressão eram mais eficazes, potencializando antagonismos e pressões internas (ALVES, 2005, p. 44). Para o general Golbery do Couto e Silva, um dos principais ideólogos do regime e formulador da Doutrina de Segurança Nacional, “não se sabe já distinguir onde finda a paz e onde começa a guerra” (Apud ALVES, 2005, p, 45). Neste sentido, para Maria Helena Moreira Alves (2005, p. 45), os generais e a elite civil do país entendiam que toda a população, constituída de supostos inimigos internos potenciais, devia ser cuidadosamente controlada, perseguida e até mesmo alguns dos seus eliminados, à medida que pudesse provocar a desagregação social. Embora os grupos de esquerda fossem os mais visados, os segmentos populares também eram vistos como possuindo um potencial desagregador e perigoso, pois o ideário era de que se constituíam de pessoas despreparadas para viver em uma sociedade urbano-industrial que estava se configurando no país, a partir de meados do século XX. As 8 milhões de pessoas da década de 1950, somadas às 14 milhões da década de 1960 e às 17 milhões da década de 1970 que migraram para os centros urbanos do país, provocavam inúmeras preocupações. Nesse sentido, chama a atenção matéria do Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, de 01 e 02 de Repressão e violência de Estado contra as classes populares 343