1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 342

A combatividade da revista, marcada pela disposição inabalável de resistir ao arbítrio do regime, unidos nesse propósito seu editor e os colaboradores, permanentes e eventuais, aumentou à medida que a ditadura endurecia. Assim, M. Cavalcanti Proença, no número 7, maio/1966, no artigo “A dissemântica de abril”, denunciava a permanente “ojeriza ao pensamento escrito”, em todos os tempos, da parte daqueles que detêm o poder, a “pirraça com os pensadores”, atitude, acrescentava, não imotivada, pois também em todos os tempos, “os intelectuais foram contra a tirania, contra a ditadura, contra a opressão”. Constatava, ainda, que a recíproca era – e é, acrescente-se – verdadeira: “nenhuma tirania admira ou sequer admite a inteligência”. Muito a propósito, em sua crônica no Correio da Manhã, de 23/5/64, Carlos Heitor Cony lançou um brado de alerta: “Acredito que é chegada a hora de os intelectuais tomarem posição em face do regime opressor que se instalou no país. Digo isso como um alerta e um estímulo aos que têm sobre os ombros a responsabilidade de ser a consciência da sociedade” (grifos de Cony). O intelectual que traísse esse compromisso, admoestava, estaria simplesmente abdicando de seu papel social e dando uma demonstração de “mediocridade moral”. Nossos intelectuais, continuava Cony, precisavam urgentemente “mostrar um pouco mais de coragem e de vergonha”. Aqueles que renunciassem a essa exigência, “talvez muito em breve não tenham mais o que defender”. Mas toda a combatividade demonstrada pelas camadas mais progressistas de nossa sociedade e da parte da intelectualidade engajada na luta contra a ditadura não bastou para impedir a decretação do AI-5, o momento mais sombrio da história política brasileira recente. Com o fechamento de vez do regime, a partir da edição do AI-5, preâmbulo nefasto à barbárie que logo tomaria conta do país, a RCB, inconformada sua editoria com a exigência de submeter a publicação à censura prévia, encerrou suas atividades com o número duplo 21/22, set.-dez/1968. Com o início da abertura do regime, comandada pelo ditador de plantão, o general Geisel (“Geisel” é a tradução para o alemão de “refém”), oxigenando, mesmo que minimamente, uma atmosfera 340 1964 – As armas da política e a ilusão armada