1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 329

ras fossem competitivas ao nível social, isto é, macroeconômico. Ao contrário, o arrocho salarial e os incentivos antes mencionados – formas fundamentais de intervenção estatal em benefício do capital – desestimularam a luta das empresas, brasileiras ou filiais estrangeiras aqui localizadas, para competirem mediante o avanço tecnológico, e restringiram, simultaneamente, a expansão do mercado interno, em benefício das exportações. Essa transferência líquida de valores para o exterior, sob as formas já assinaladas, está no centro da crise estagflacionária8 em que se submergiu a economia brasileira, durante longos anos, a partir de começos da década dos 1980. Derrotado por ampla coalizão de forças democráticas, o longo regime militar legou ao país inúmeros problemas, que marcaram fortemente a vida nacional. Entre estes, destacam-se: a) o atraso no desenvolvimento das instituições democráticas; b) o agravamento das desigualdades sociais decorrente do modelo de desenvolvimento posto em prática pela ditadura, fundado no arrocho salarial e na repressão, em geral, aos movimentos populares reivindicatórios; c) a postergação do encaminhamento da solução dos problemas sociais básicos; d) a colossal e aparentemente impagável dívida externa do país e a contrapartida desta, ou seja, a elevada dívida pública interna; e e) duas “décadas perdidas” para o desenvolvimento da economia nacional, como resultado, em grande medida, desse endividamento. Conclusões Deve-se considerar que os militares, em última instância, desempenharam em todo esse processo a função de braço armado do capital monopolista transnacional, aliado aos setores conservadores e direitistas das classes dominantes “nacionais”. 8 A partir de 1981, períodos de recessão alternam-se com ligeira retomada do crescimento, caracterizando-se prolongada estagnação do desenvolvimento da economia nacional. Subsídios para uma crítica à ditadura militar 327