1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 326

progressistas a adotarem uma visão maniqueísta em seu confronto político e ideológico. Os conservadores viam – de modo geral, em qualquer tentativa de reforma social – subversão da ordem, ameaça comunista, guerra revolucionária, destruição dos valores da civilização ocidental e cristã, atentado ao direito de propriedade e destruição da democracia. E, em nome de todos esses valores, defendiam intransigentemente a intocabilidade do latifúndio improdutivo e a liberdade de atuação, sem limites, dos monopólios privados transnacionais e brasileiros. E, mais do que isso, defendiam, velada ou ostensivamente, o golpe militar e a instauração de um regime ditatorial, a pretexto da defesa das instituições democráticas. E esse golpe, várias vezes ensaiado desde a primeira metade dos anos cinquenta, como já foi mencionado, acabou por efetivar-se entre 31 de março e 1º de abril de 1964. A ditadura militar e seu modelo de desenvolvimento Os sucessivos governos ditatoriais, oriundos do golpe militar de 1964, estabeleceram diretrizes e medidas, consubstanciadas em diversos planos, programas e projetos, e orientaram-se no sentido de estabelecer o “modelo brasileiro de desenvolvimento” antipopular e concentrador de renda. Os textos desses planos e programas, ora esclarecem, ora obscurecem, os verdadeiros processos econômicos, políticos e sociais em curso durante os governos autodenominados revolucionários (com evidente impropriedade conceitual). Assim, é inegável que, ao menos até 1980, os governantes militares estavam empenhados no combate à inflação e na promoção do desenvolvimento econômico. Porém, suas solenes declarações a favor da melhoria das condições de vida do povo brasileiro – particularmente, das massas trabalhadoras – estavam em flagrante contradição com a política 324 1964 – As armas da política e a ilusão armada