1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 325

programas de estabilização adotados no passado: correção de preços defasados, redução do déficit público e controle da expansão do crédito no setor privado”.6 A queda da renda per capita em 1963 e a aceleração inflacionária caracterizaram o fracasso do Plano. Minoritário no Parlamento, que se negava a aprovar reformas constitucionais propostas pelo Executivo com vistas à viabilização legal das reformas de base, o presidente João Goulart manobrava no sentido de encontrar uma solução politicamente viável para os agudos problemas com que se defrontava o país, chegando a apelar, nos últimos dias de seu governo, para os decretos-leis, como o da declaração de utilidade pública de terras para fins de reforma agrária e o da encampação (estatização) de refinarias de petróleo. Para adotar essas medidas, apoiava-se na mobilização do movimento sindical, nos setores “nacionalistas e democráticos” das forças armadas, em segmentos minoritários das camadas médias, nos partidos políticos de esquerda e em segmentos minoritários dos partidos liberais e conservadores, como a “ala moça” do PSD e a “bossa nova” da UDN. As forças conservadoras opunham-se, por definição, ao caminho preconizado pelas forças progressistas e defendiam irrestrita e intransigentemente a propriedade privada dos meios de produção, sob todos os aspectos, particularmente, a dos latifúndios improdutivos e a dos monopólios transnacionais. Do lado das forças conservadoras, alinhavam-se os latifundiários, os monopólios transnacionais e setores majoritários da burguesia brasileira, bem como segmentos das camadas médias, incluindo-se aí setores conservadores e de direita das forças armadas e da intelectualidade. Toda essa luta desencadeava-se num quadro de confrontação, em nível internacional, dentro de um clima de Guerra Fria que conduzia, frequentemente, tanto os conservadores como os 6 ABREU, Marcelo de Paiva. Inflação, estagnação e ruptura: 1961-1964. In: ABREU, Marcelo de Paiva et al. A ordem do progresso: cem anos de política econômica republicana, 1889-1989, p. 206-207. Subsídios para uma crítica à ditadura militar 323