1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 32

de vista cívico e democrático da sociedade brasileira. Terminada a apuração do primeiro turno, ao ser anunciado que Lula iria para a disputa com Collor, fomos emprestar-lhe nosso apoio, de imediato. Novo grande erro foi cometido por parte do PT: não aceitar o apoio de Ulysses Guimarães (que teve 5 milhões de votos no primeiro turno), cuja luta de resistência ao regime ditatorial o colocava inquestionavelmente no campo democrático de esquerda, apesar de bem representar o centro democrático. No primeiro grande teste da construção democrática, o movimento da campanha e o seu desenlace vitorioso em torno do impeachment do presidente Fernando Collor revelaram que as instituições eram sólidas. E, mais que isso, possibilitaram se construir, graças o engenho e arte de Itamar Franco, o primeiro governo de centro-esquerda da história brasileira, do qual fui líder na Câmara Federal. Não apenas porque foram forças democráticas e de esquerda que, num processo de luta, patrocinaram o impedimento do político alagoano, mas pela composição com que se estruturou e pelas grandes mudanças que propiciou, como o Plano Real, a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), medidas de reforma agrária, dentre outras. Relembre-se que, na composição desse singular governo, estavam dirigentes do PSB, PCB, PSDB, PMDB e PCdoB, só não teve do PT (embora alguns petistas como Luiza Erundina tenham participado do governo, apesar de ameaçados de expulsão). Vieram,em seguida, os dois governos de Fernando Henrique Cardoso, os dois de Luiz Inácio Lula da Silva e o atual, de Dilma Rousseff. A história nos deu razão. Eu não tenho dúvida de que a linha política vitoriosa que derrotou a ditadura foi a adotada pela frente democrática, representada pelo MDB, depois PMDB, que teve o PCB como um de seus partícipes. Nossa presença no MDB não era de uma força qualquer, havia uma formulação política de um partido que era clandestino mas pensava, fazia congresso, tinha documentos, apontava caminhos e seus dirigentes e militantes se incorporavam às ações e movimentos. 30 1964 – As armas da política e a ilusão armada