1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 31
A transição à democracia foi pactuada e longa, mas possibilitou que se ultrapassasse a tutela que os militares exerceram sobre
a República, desde a sua proclamação. Hoje, não se escutam os
clarins da revolução nas ruas, como os defensores da luta armada
imaginavam ao sonhar com a derrubada da ditadura, mas felizmente o povo decide os destinos do Brasil nas urnas.
Milhares de brasileiros deram sua contribuição à derrota de
um governo de chumbo que infelicitou o nosso povo por tanto
tempo. Alguns pagaram com a própria vida essa virada de página
que conspurcou nossa história. Retomamos o caminho democrático, e é por ele, unicamente por ele, que poderemos avançar em
direção a uma sociedade mais livre e justa.
São comuns avaliações que atribuem a Golbery do Couto e
Silva, estrategista de Geisel, uma bem sucedida estratégia para a
transição à democracia, como se os militares fossem vitoriosos e a
oposição democrática derrotada. Evidente que o regime militar
buscou sua institucionalização como “democracia relativa” e
somente não atingiu seus objetivos porque foi sucessivamente
derrotado nas eleições e o mundo mudou.
Cinquenta anos após o Golpe, ainda se discute o comportamento da esquerda naquele ano fatídico para o povo brasileiro. Ao
longo dos anos, fui aprendendo a avaliar aquela conjuntura muito
mais pelas suas consequências do que pelas suas causas.
Temos consciência do papel relevante das lideranças e agrupamentos que migraram do regime para apoiar o movimento pela
redemocratização em 1985. A resistência, porém, tem nomes, rostos,
sangue derramado, sofrimento, símbolos e uma folha pública de
serviços prestados à causa da luta contra o autoritarismo.
Em 1989, a campanha presidencial apresentou cinco candidatos representativos da direita e uns cinco candidatos representativos da esquerda. Fui candidato naquela época, pelo PCB, e
aquele volume de presidenciáveis, representando um amplo arco
de forças políticas, espantava alguns setores, depois de trinta anos
sem eleição. Para mim, foi um momento muito educativo, do ponto
A defesa intransigente da democracia
29