1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 309

conduzida por frações da pequena burguesia e apoiada por setores radicais do campesinato. Essa divisão esteve no centro da luta interna do VI Congresso, que se realizou em 1967 e que gerou a defecção de toda uma série de quadros. Aqueles que permaneceram venceram o debate e conseguiram manter, no essencial, a nossa visão do processo. A história dos conflitos internos, nos anos 1965/1967, ainda está por ser analisada em toda a sua profundidade (como toda a nossa história!). Muito esquematicamente, pode-se dizer que os camaradas ulteriormente excluídos do PCB (e que, posteriormente, seguiram caminhos diversos) julgavam que, no imediato pré-64, cometemos erros de direita. Ou seja: eles não compreenderam que fomos batidos precisamente porque compactuamos com o golpismo. Muitos deles, inclusive, antes do golpe militar, chegaram mesmo a acreditar que estávamos às vésperas da revolução. O golpe os surpreendeu brutalmente e eles penderam para o ceticismo face ao trabalho de massas. Movidos pela impaciência revolucionária, derivaram para o vanguardismo e caíram no esquerdismo. Curiosamente, muitos desses camaradas, homens provados na luta, patriotas honrados e alguns até teoricamente muito preparados, incorreram no erro que estávamos denunciando há bastante tempo – a transplantação de experiências e modelos. O esquerdismo em que se envolveram, alguns tragicamente, na maioria dos casos, inspirava-se tão só numa análise falsa da conjuntura brasileira, mas em experiências de luta armada aceitas acriticamente. Creio que é desnecessário chamar a atenção, no caso deste esquerdismo apoiado na transplantação mecânica de experiências revolucionárias, para o importante papel desempenhado pelo contexto internacional. Então, o exemplo cubano (na esteira dos movimentos revolucionários e/ou modernizadores do Terceiro Mundo: China, Argélia, Egito, movimentos em que o peso proletário foi pouco ponderável), despido da sua original peculiaridade, foi erroneamente interpretado como um cânone. O Golpe de 1964 e aspectos da política brasileira 307