1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 307

exemplo, deveríamos ter transferido para o exterior a maioria do Comitê Central do PCB. Houve outra falha grave no “trabalho especial” propriamente dito: nunca demos a suficiente importância à análise das informações que nos chegavam sobre o trabalho dos órgãos de repressão da ditadura. Não avaliamos as consequências dos novos métodos utilizados e que poderiam ser estudados nos documentos oficiais sobre a Política de Segurança Nacional, às quais tivemos acesso. Só que não levamos isso suficientemente a sério. Ou quando acreditávamos no que estava escrito naqueles documentos, achávamos que tudo aquilo não iria nos afetar. E não havia um organismo nosso que se dedicasse especificamente a essa questão. Assim como tínhamos uma Comissão Executiva que fazia uma avaliação política periódica (e isso foi uma coisa boa, e forte em nossa atividade partidária), deveríamos ter um órgão para estudar as informações, a fim de entendermos melhor o que estava acontecendo e como nossa luta iria se encaminhar. Resta acrescentar um outro dado. Na repressão a qualquer partido político clandestino, a polícia usa a mais eficiente das armas – a infiltração. Essa questão nunca foi bem discutida entre nós, nem claramente colocada. Até hoje algumas dessas questões não foram devidamente apuradas. Naquela época, fomos informados que certos companheiros foram abordados por agentes norte-americanos, que tentaram convencê-los a colaborarem com eles. Portanto, havia uma agência norte-americana atuando no Brasil. E ela sabia como encontrar esses companheiros. Mas não ficou claro se tal agência colaborava ou não com os órgãos policiais brasileiros. Creio que só com o tempo tais “mistérios” serão esclarecidos. Portanto, uma das tarefas do “trabalho especial” seria tentar algo em termos de uma atividade específica de informação, não se restringindo às tarefas práticas em que estávamos mergulhados. Na verdade, nunca fomos capazes de fazer isso. Naturalmente, em razão de nossas incompreensões políticas, aqui mencionadas. O Golpe de 1964 e aspectos da política brasileira 305