1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 305

Mas não dispúnhamos de armamentos. Tínhamos tão só uma meia dúzia de pistolas. Como isso não iria servir para quase nada, a solução era improvisar granadas. Com o tipo de material que existia na praça, passamos a prepará-las. Fizemos uma boa quantidade dessas armas, o serviço foi feito, mais ou menos dentro das regras de segurança, utilizando o que era possível adquirir no mercado. Fabricamos essas granadas dentro daquelas circunstâncias. Ainda assim um produto razoável. O VI Congresso definiu a orientação e o futuro do Partido. Estabeleceu que o centro da tática do Partido seria a luta pelas liberdades democráticas. A afirmação dessa estratégia determinou toda a atividade do PCB, derrotando as teses que propunham a adoção da luta armada e a proposta de luta imediata pelo socialismo. Por isso, foi um acontecimento histórico, fundamental e decisivo na vida do PCB. Entre os anos de 1964 e 1975, o “trabalho especial” desempenhou um papel importante no PCB, porque ajudou o funcionamento da organização partidária e permitiu elaborar algumas políticas corretas. Por exemplo, indicamos que os comunistas deveriam utilizar sempre que possível os espaços legais de ação, mesmo quando o Partido estava imerso na clandestinidade. Pois entendíamos a clandestinidade não para ficarmos escondidos, mas para podermos combater a ditadura. Com esse espírito é que foi realizado o “trabalho especial”. Todavia, os acontecimentos e os profundos golpes sofridos pelo PCB, na década de 70, demonstram ter havido uma ilusão política na direção do PCB e que isso, como não podia deixar de ser, refletiu-se no “trabalho especial”. Foi a ilusão de que a violenta repressão do regime militar não se voltaria contra nós. Isto porque nossa posição era diferente da dos grupos engajados na luta armada e que foram sendo dizimados pela ditadura. Ou seja, pensávamos que estaríamos imunes a esse tipo de ataque. Não entendíamos, portanto, que iríamos sofrer um ataque igual ou pior do que o desfechado contra aqueles grupos. E não concluímos que essa ofensiva contra nós teria consequências ainda mais danosas. O Golpe de 1964 e aspectos da política brasileira 303