1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 282

guando na campanha eleitoral do MDB em 1974, na qual desempenhou o papel de uma das massas críticas decisivas, refiro-me ideologicamente à frente democrática, na grande vitória obtida em outubro desse ano. As eleições de 15 de novembro de 1974 desarranjaram, com vergonha, o projeto de institucionalização do Estado militar-nacional. A vitória acachapante do MDB, que com onze milhões de votos elegeu 16 senadores e 175 deputados federais, mudou a relação de forças. Ao invés dos cerca de 40% de votos nulos na eleição de 1970, o que se tinha era um voto de rejeição na porta dos quartéis. E novamente surgiu o monstro fascista tingido de verde-oliva, como em 1935. O ditador nº 4 e o seu braço direito, o coronel Golbery do Couto e Silva, ordenaram uma expedição de extermínio nos anos 1974-75 como revanche por 1968 (Frente Ampla), pelo voto nulo, pela viabilidade eleitoral da frente democrática oposicionista, mas fundamentalmente pelas eleições de 1974, com as vitórias esmagadoras da oposição legal agrupada no MDB, orquestrada ideologicamente pelo PCB.38 Subsequente a essas vitórias, ressurgiu o sindicalismo no ABC paulista reorganizado pelo PCB a partir de 1974. A oposição ao Estado militar-nacional se tornou majoritária nos setores mais organizados da sociedade civil brasileira – advogados e juristas (Ordem dos Advogados do Brasil), jornalistas (Associação Brasileira de Imprensa), cientistas (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) –, e estes ratificavam a plataforma defendida pelos comunistas para essa derrocada: Constituinte, eleições gerais, anistia ampla geral e irrestrita, que estavam sólidas em 1975 (haviam sido lançadas em 1967). O ditador nº 4 e o coronel Golbery do Couto e Silva, que se abundava na Casa Civil da Presidência da República (sic!), tributavam a derrota do seu projeto político aos comunistas. 38 Esse coronel tinha um ódio doentio contra o Exército e contra os generais que não o promoveram. Em 1964, como chefe do SNI, recém-parido, faria a lista de expulsão e cassação dos militares de esquerda, principalmente os comunistas, a quem culpava por não ter chegado ao generalato. Eram seus inimigos pessoais os generais Argemiro de Assis Brasil, Euryale de Jesus Zerbini, Euclydes Zenóbio da Costa, Osvino Ferreira Alves, os almirantes Pedro Paulo de Araujo Suzano e Candido Aragão, os brigadeiros Epaminondas Gomes dos Santos e Francisco Teixeira. Tratava-se do famoso dispositivo militar do presidente João Goulart, alguns deles militantes históricos da Antimil. 280 1964 – As armas da política e a ilusão armada