1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 270
À noite, o ditador nº 2 anunciou, em discurso transmitido
por rádio e televisão:
Salvamos o nosso programa de governo e salvamos a democracia, voltando às origens do poder revolucionário.
E, nessa mesma noite, foi lacrado o Congresso Nacional. Os
militares foram à forra com apetite bestial na destruição da base
política da Frente Ampla e de seus líderes. Foram cassados 110
deputados federais, 160 estaduais, 170 vereadores, 22 prefeitos. As
detenções para averiguações passaram de 10.000 pessoas, sendo-lhe imputados os crimes de subversão, corrupção, homossexualismo e pornografia. Dentre eles foram aprisionados um ex-presidente (Juscelino Kubitschek, um dos articuladores do golpe), o
líder civil da quartelada (Carlos Lacerda) e a maior liderança militar do pós-guerra (marechal Henrique Lott).30 E não bastou o AI-5,
já que depois dele vieram, em fevereiro de 1969, os nos 6 e 7; em
abril, os nos 8 e 9; em maio, o nº 10, e, em agosto, os nos 11 e 12. Era
o Estado nacional-militar em seu esplendor fascista, regido pelo
ditador nº 2, pai do AI-5, até 31 de agosto de 1969, vitimado por
um Acidente Vascular Cerebral (AVC) que o mataria em 17 de
dezembro de 1969. O candidato a novo ditador da Escola Superior
de Guerra era o general Sizeno Sarmento (1906-1983), comandante do I Exército, sediado no então Estado da Guanabara, que
seria vetado pela jovem oficialidade e pela linha dura. E o candidato da jovem oficialidade, o general Albuquerque Lima, seria
lhos nesse desfile é o auxílio aos carrascos que os espancam e os metralham nas ruas.
Portanto, que cada um boicote esse desfile. Esse boicote pode passar também, sempre
falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens
oficiais. Seria preciso fazer hoje, no Brasil, que as mulheres de 1968 repetissem as
paulistas da Guerra dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa àqueles
que vilipendiam-nas.
30 Essa reconstituição foi feita a partir da consulta aos arquivos dos jornais Folha de
S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, a partir do dia 1º a 20 de
dezembro de 1968. As versões são todas coincidentes e seguem uma mesma linha de
abordagem e fontes. O áudio completo da reunião de aprovação do AI-5 está disponível em: . A ata
completa do Conselho de Segurança Nacional, datada de 1º de julho de 1968, assinada pelo general de brigada Jayme Portela de Mello, com o diagnóstico completo dos
militares sobre a crise que enfrentavam pode ser acessada em: .
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1964 – As armas da política e a ilusão armada