1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 269

homens tinham todos os pretextos pessoais (e políticos) para se odiarem eternamente. Estenderam as mãos e as pontes unitárias para a redemocratização. A aceitação de Prestes nesse convescote redemocratizador reativava seu papel pré-golpe: os comunistas eram recebidos como operadores políticos admiráveis e, no programa da Frente Ampla, foi assegurada a legalização do PCB. Esse acordo atordoou os militares. Carlos Lacerda, especialmente, acolhera as bandeiras comunistas para a redemocratização depois do seu fracasso em fundar um braço político – o Partido da Reforma Democrática. Teria sido sua catapulta para a eleição indireta à Presidência da República pelo Congresso, na sucessão do general Arthur da Costa e Silva. Juscelino Kubitschek pagava a volição de ter sido uma das peças fundamentais para a deposição de Goulart. Acreditou que era a melhor forma para remover Leonel Brizola (o favorito) do páreo das eleições presidenciais que se realizariam em 1965. Tornaram-se inimigos, e como tal passaram a ser tratados.28 A resposta repressiva, sempre a ideal para eles, foi a edição do AI-5, em seguida aos grandes atos estudantis e populares secundados pela formação da Frente Ampla. Atribuir a um pequeno discurso inflamado feito por um jovem e indignado deputado federal do MDB, Márcio Moreira Alves (1936-2009), em 2 de setembro de 1968, o papel de gatilho do fechamento (fascistizante) de um regime que já era ditatorial, é superestimar um discurso e subestimar o comando ditatorial.29 28 No momento em que essa articulação de ex-inimigos mortais se tornou uma plataforma política coerente, os militares concluiram a transformação de exército convencional em força repressiva para uma guerra de extermínio contra o inimigo interno. No dia 25 de julho de 1968, o ministro do Exército Aurélio de Lyra Tavares fez uma visita ao Centro de Treinamento Especializado, na Vila Militar, do Rio de Janeiro. Disseminou, propositalmente, um clima de preocupação com a força e o potencial da esquerda revolucionária. Seu temor era que elementos subversivos estivessem se infiltrando em unidades do Exército especializadas em lutas antiguerrilhas para sua utilização contra essas mesmas unidades. Pura fantasia. 29 O trecho considerado ofensivo pelas Forças Armadas dizia: Vem aí o 7 de setembro. As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai, cada mãe, se compenetrasse de que a presença dos seus fiDerrota anunciada: Luta armada e o PCB (1967-1973) 267