1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 268

ideal para mantê-lo ad infinitum. A refrega derivaria em um fascismo, sem necessidade de adjetivos. A Frente Ampla brotou à esquerda em 1965, com o diagnóstico do PCB sobre o sucedido em 1964. Admitia-se, finalmente, que o inimigo principal era o Exército brasileiro. Derrotados por ele politicamente, teriam que derrotá-lo politicamente. Numa entrevista concedida ao L’Humanité, órgão oficial do Partido Comunista Francês, em 3 de agosto de 1965, na seção Nouvelles Du Monde, Prestes sinalizava “que os comunistas, desde o início, tomaram claramente posição de oposição e de luta contra a ditadura. Temos participado ativamente no esforço de reagrupamento das forças democráticas para esta luta. O objetivo tático destas forças é isolar e derrotar a ditadura e de conquistar um governo representativo das forças antiditatoriais”.27 A primeira reunião foi na casa de Alberto Praga Lee, no Rio de Janeiro, território negociado pelo editor Ênio Silveira (19251996). Seus proponentes eram completamente díspares: Carlos Lacerda, acompanhado do seu filho Sérgio Lacerda, representava ele próprio, o ex-deputado José Gomes Talarico (1915-2010) e o brigadeiro (comunista) Francisco Teixeira (1911-1986), representante do ex-presidente João Goulart, os ex-deputados Renato Bayma Archer da Silva (1922-1996) e Artur Mello de Lima Cavalcanti (1930-), em nome do ex-presidente Juscelino Kubitschek. A conversa fluiu sem obstáculos. Era o contragolpe civil ao golpe militar. Houve uma segunda reunião, na mesma casa, já como grupo político. O PCB designou, depois de acirradas discussões do CC sobre aceitar a adesão de Lacerda, como seu emissário Luiz Inácio Maranhão Filho, ex-deputado estadual do PCB do Rio Grande do Norte, advogado, a cabeça que engendraria a conexão entre a esquerda e a direita na Frente Ampla. E sobreviria um espetáculo de tolerância jamais visto na nossa República: em 23 de setembro de 1967, em Montevidéu, frente a frente o carrasco e o executado, Carlo 2