1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 258
anos intermináveis no exterior, tentando explicar o que fizera com
os aportes financeiros que recebera de Havana.16
Qual era a disposição cubana no Brasil pós-golpe? Sustentaria as organizações anti-imperialistas brasileiras tendentes a pegar
em armas. A política de Moscou com o PCB, derrotada, teria que
abrir passo para a caravana armada. Fidel Castro, como cristão
novo no paraíso revolucionário, irritava os comunistas e Moscou.
Não se recordavam do fracasso no Brasil em 1935? Pois bem, repetiram a dose em 1964 e lhes cabia, a Prestes e a Moscou, responsabilidade por mais um retrocesso. E, na década de 1950, os ensaios
dos comunistas que, ancorados no prestígio universal da URSS
pela derrota do nazifascismo, lançaram movimentos revolucionários em todo o mundo? Fracassos. E Cuba? Não só batera o exército convencional, como o arrasara, criara uma nova realidade
latino-americana. Mais: os comunistas teriam que vergar-se ao
diktat que o vitorioso não fora liderado por eles, na formulação, na
condução e no êxito. Havana criticava a política internacional da
URSS, um “nacionalismo de grande potência”, que priorizava a
situação interna e resvalava para a passividade nas suas obrigações internacionalistas.
Viagem ao Paraíso
O convite oficial para o PCB participar da Olas chegou no
início de 1967, sendo recebido com desdém por Prestes, pois era
genérico, inespecífico inclusive quanto a nomes de dirigentes.
Marighella rumou, no dia 20 de julho daquele ano, para Havana,
16 Sobre os planos entre Marighella e Che, eu os discuti com o advogado argentino Gustavo Roca, em Madri, onde ele se exilara depois do golpe militar no seu país, em
1976. Fora, dentro da Argentina, um dos braços direitos de Guevara, junto com Jorge
Masetti. E um dos líderes do Cordobazo, o levante popular, em 29 de maio de 1969,
que derrubou o governo de Juan Carlos Onganía, abrindo passagem para o retorno
do peronismo ao poder. Nossa primeira entrevista foi em 15.06.1978, e a partir daí,
mantivemos vários encontros dissecando todo o projeto revolucionário continental e
dentro dele o Brasil. Para ele, a falta de apoio logístico brasileiro impediu Che de recuar da Bolívia para o Brasil, e um dos fatores decisivos de sua derrota. As guerrilhas
peruana e argentina tinham sido destroçadas.
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