1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 254
Temos dois fluxos dessa indeterminação: a intencional, em
que os brasileiros se submetem acriticamente às diretrizes de
Cuba; e a não intencional, em que eles, ao não disporem de alternativas aos obstáculos que enfrentariam, contentar-se-iam com o
proselitismo. Decorriam do legado histórico do PCB: como não se
sabia que tipo de revolução desejavam depois de 1935, essa indeterminação era mais de irresolução do que opção. Herdada pela ALN,
esta indeterminação do PCB gerou a subestimação das perspectivas
reais de se desencadear uma oposição armada. Obliterou o cálculo
correto do que abrangia esse tipo de guerra, quais os setores sociais
envolvidos, a apreensão da circunstância em que o país vivia.
Arguida essa indeterminação se teriam poupado as ambiguidades
e delírios que tanto nos ocasionou em vítimas e desterrados.
A indeterminação desse pêndulo – o que é ação armada, o que é
PCB –, colaborou para que a máquina repressora não discriminasse a nenhum dos dois. Mesmo que soubesse que o PCB e as
organizações revolucionárias tinham experiências social/historicamente distintas, patentes nas suas políticas, ela matava e torturava a todos, indistintamente. Como ocorreu na Comuna de Paris.
Com isto claro, a avaliação dos trajetos da revolução brasileira colocava uma temática nuclear: escolher a reforma possível,
ou submergir na insurreição impossível. Tanto a opção armada
como a pacífica foi um ato de vontade. Reducionista é apontarmos
o que foi o mais correto, porque isto implica na sua validade, e
como tal, algo feito arbitrariamente por cada uma das duas opções
à época. A cada eleição, o intérprete atribui, com base em seus pré-conceitos, os méritos da sua guerra, e uma vez postos, a sua
anuência será subjetiva. No interregno entre a década de 1960 e de
1970 se deflagrou aqui tardiamente a luta revolucionária. O PCB
intuíra que mudara radicalmente a trama das relações da esquerda
brasileira com as massas. Alterara-se profundamente a agenda
social, política, econômica, do país, na medida em que o motor
principal da contrarrevolução – a modernização capitalista –
impunha outro exercício e discurso para toda a esquerda. Houvera
a passagem de um capitalismo dependente para outro com certo
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1964 – As armas da política e a ilusão armada