1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 251

mento ortodoxo ao modelo soviético como modelo, ideário e crenças? Forjar uma nova identidade ideológica, fora da raia soviética? Não, categoricamente não. Nesse debate revelou-se, novamente, o enfrentamento de figuras e de escolhas que vinha desde o XX Congresso do PCUS. Ocasionou um dilema interno no PCB, constrangendo-o à produção de um novo arquétipo, de uma nova tática para manter a sua hegemonia no campo da esquerda. E renovar a sua idoneidade, servir de padrão na luta pacífica para derrubar o Estado militar-nacional. Ele vê surgirem vozes que exprobram o seu desempenho, por não ter travado o bom combate contra a investida militar e, posteriormente, ter renunciado à ação armada como forma de resistência; que estivera à beira de um estado pré-revolucionário e se equivocara, não consagrara seu mandato histórico. Segundo tais vozes, a dependência do PCB à oposição democrática burguesa o desviara para uma política reformista, e não à instauração da ditadura do proletariado, contrariara os ensinamentos do marxismo e do leninismo. Os agrupamentos e tendências, que se opuseram simultaneamente ao Estado militar-nacional e ao PCB, diziam oferecer múltiplas probabilidades de outro poder, sem a influência dos comunistas. E o que oferecia o PCB? Derrocar política e pacificamente a ditadura nacional-militar, implantar um governo de união nacional, com todas as tendências democráticas nacionais, que abrangeria também os comunistas. Tal acordo seria o penhor de que esse governo restituiria, seguramente, as liberdades democráticas. Era um programa socialdemocrata, parido por um partido comunista, no mínimo, maleável. O clima político em 1968 sinalizava nitidamente um novo ciclo histórico contrarrevolucionário, pois não havia uma desordem social de massas cujo desaguadouro seria o gatilho da rebelião final. O que existia apenas era uma projeção de fantasias revolucionárias, notadamente estudantis. Por isso alçar armas ou não era um falso conflito. E no conjunto histórico-social da época, temos que nos ater também às subjetividades com que foram feitas. E nos remetermos ao deslumbre de Marighella com duas Derrota anunciada: Luta armada e o PCB (1967-1973) 249