1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 250

O sucesso primitivo (ilusório) das ações guerrilheiras foi precedido imediatamente pela rejeição a elas por parte da sociedade. Sem uma base ampla de sustentação, reduziu-se a atos voluntaristas que os submergiram em uma marginalidade política e social. No Brasil, os dirigentes não só da ALN, mas de todas as outras organizações, acreditavam que a práxis revolucionária tinha uma sanção ilimitada para todos os tipos de ações, até mesmo as de terrorismo político clássico. O benefício era automático. Ao não distinguirem claramente quem e quais seriam os alvos da violência política, evaporaram-se os canais no campo da esquerda. Perderam a justificativa dessa práxis como algo legítimo e, em nenhum tempo, tentaram justificá-la. A consequência foi nefasta, pois os atos eram banalizados como terroristas e abonavam o contra-ataque igualmente terrorista por parte do Estado. A crítica da derrota para a contrarrevolução em 1964, para além da esfera partidária (no caso do PCB), deu-se em dois âmbitos interconectados: a universidade e os sindicatos. Nesses dois espaços se verificava a demolição do papel hegemônico do PCB e a busca de uma nova esquerda. Semelhava a muitos a terminação histórica das saídas reformistas e sinalizava o ocaso do PCB como guia da esquerda brasileira (mas persistiu fornecedor de quadros estratégicos para as oposições agrupadas no MDB). De partido-farol da revolução brasileira, detentor do monopólio ideológico da esquerda, teve que procurar um novo porto. Os problemas dessa batalha ideológica entre o PCB e a esquerda não comunista em torno da ação armada ou pacífica era apenas uma repetição. Tanto no campo acadêmico como no político, retornava a querela sobre a validade dos métodos pacíficos do PCB e de suas alianças com a burguesia dita progressista. O saldo dessa batalha redundaria numa nova esquerda basicamente universitária, atrelada ao caráter mitológico da Revolução Cubana. Além da perda do prestígio ideológico, o PCB teve que superar a fragilidade que se instalou pela fuga de quadros, mas revertida a curto prazo. E que fez emergir um problema ausente das apreensões de sua direção no pré-golpe: o que se perdia ou se auferia com o segui248 1964 – As armas da política e a ilusão armada