1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 249
nário, como fenômeno, não se insere unilateralmente numa sociedade. Ele tem que agir, racionalmente, em dois universos distintos: na sociedade, de forma global, nos seus fundamentos de
valores, destruir sua repressão, atacar seu poder concreto; e no do
movimento revolucionário, como antítese e motim permanente
contra o inimigo.
Derrota anunciada
Se a conjuntura brasileira em 1964 era pré-revolucionária,
se a bússola social da esquerda apontava numa direção anticapitalista, se haviam alianças sociais e políticas possíveis para que se
passasse para a ruptura – por que ela não se materializou? Porque
não havia realismo, fruto de uma direção política com base popular. E por que não havia essa direção política? A experiência revolucionária, com base social majoritária, nunca foi presente em
nenhum curso de nossa história. O que de contínuo houve foi que,
mesmo quando a radicalização social incidiu em parcelas grandes
da população, não se teve secundando-a uma plataforma revolucionária factível. Se decuparmos a realidade brasileira no campo
da esquerda, nos anos 1960, veremos que o quadro era contrarrevolucionário, não comportava a construção de políticas para uma
insurreição de massas. Torna-se imprescindível revisá-lo para que
tenhamos clareza dessa grande ambiguidade histórica. Equivocaram-se no diagnóstico de que havia a iminência de uma combustão
social pré-revolucionária. E de que bastaria para a rebelião das
massas, a repressão, a opressão, a injustiça, a exploração das
massas. Um modelo social e economicamente injusto não é caução
automática de rebelião em lugar nenhum. Assim como não funcionaram os instrumentos disponíveis. Eles só funcionariam conjugados por ampla base social que, por sua vez, autenticaria as ações
políticas, econômicas e sociais. Os revolucionários, quando ligados
ao povo, podem comandar as lutas sociais, mas não lastreados em
manua