1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 241

dade brasileira como algo social e politicamente aceito pela população. Do mesmo modo, nunca alcançaram o estágio de mobilização popular em grande escala, como na Nicarágua e El Salvador. Mesmo os Tupamaros no Uruguai, Montoneros na Argentina, Sandinistas na Nicarágua, Sendero Luminoso no Peru, entre outras, todas tiveram composições híbridas (do nacionalismo ao marxismo-leninismo), o que torna difícil caracterizá-las apenas como conflitos civis por motivos ideológicos. Se acolhermos o conceito de Centeno (2001) de guerra total, nunca houve esse tipo de enfrentamento entre os militares e a esquerda armada. Esse autor diferencia como guerra total: (a) crescente mortalidade no campo de batalha, (b) expansão das áreas de combate que compreendem não só centenas de quilômetros de fronteiras, mas alvos civis; (c) associação com formas de cruzada moral ou ideológica que contribui para demonizar o inimigo; (d) a participação de parcelas expressivas da população, seja em combate direto ou em atividades de apoio; (e) militarização da sociedade na qual as instituições sociais se orientam cada vez mais para o sucesso militar e são avaliadas pela sua contribuição para o esforço de guerra. Qual é o potencial de terrorismo que podemos detectar nas organizações armadas da década de 1966 a 1971? As ações terroristas chegaram, tanto no coletivo como no individual, a provar sua eficácia, seu calibre, capacidade de infligir danos contra o poder ditatorial? Tal conceito político era maleável nesses anos para abranger, tanto a ação política desarmada, como a armada como terrorismo político, abstraindo-se seu gatilho, fosse ideológico, religioso ou étnico.4 Quais eram os discernimentos então para determi4 A fronteira entre terrorismo político e violência revolucionária sempre foi discutível na história revolucionária. Exemplo: Yoshitame Fujimori, jovem técnico em eletrônica, recrutado por Eduardo Leite, militante comunista dissidente, no primeiro treinamento de tiro que fez num sítio em São José do Rio Preto espantou a todos pela sua pontaria. Escalado para conseguir um carro para um assalto, tentou roubar uma Veraneio. Porém, seu motorista, um pequeno empresário, Estanislau Ignácio Corrêa, que levava com ele o dinheiro da folha salarial, reagiu. Fujimori fuzilou-o com vários tiros. Alguns militantes ficaram chocados. O empresário estava desarmado. A partir de ocorrências como essa, os dirigentes baixaram drásticas ordens: só poderiam ser Derrota anunciada: Luta armada e o PCB (1967-1973) 239