1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 240
resses da sociedade brasileira. A partir de 1964, partes consideráveis da esquerda brasileira (inclusive setores minoritários do PCB)
migraram para o foquismo, a revolução como obra de iluminados.
O que aconteceu conosco nessa epopeia? Foi tudo muito
rápido: 1967 seria o ano em que o Brasil, na cabeça de Fidel Castro e
Ernesto Guevara, adquiriria seu papel de polo estratégico da revolução latino-americana. A brasileira seria a segunda (a primeira era o
Vietnã) frente hostil aos EUA, o que os condenaria a combater em
duas grandes guerras separadas por milhares de quilômetros. E essa
batalha anti-imperialista seria liderada por Leonel Brizola e seus
sargentos nacionalistas e marinheiros, à frente de focos guerrilheiros espalhados pelo Brasil. Obviamente, o gaucho entendeu isso
como um delírio e se recolheu prudentemente. Ambicionava apenas
demolir os generais, pela segunda vez.
Ainda em 1967, o projeto é liquidado nos primeiros passos
de Che Guevara na Bolívia pelo boicote do PC boliviano. A causa: o
mandonismo do argentino obcecado em fixar, como regra, subserviência dos dirigentes comunistas bolivianos à sua liderança. Essa
é a lenda oficial, perpetuada como uma hormonal rixa pelo
comando da guerrilha. Era apenas a lucidez de Moscou e de Mario
Monje Molina, dirigente do partido boliviano, para quem aquilo
era uma aventura. E como tal seria tratada pelos soviéticos e por
ele. O que igualmente foi apreendido por Leonel Brizola, que
enviou uma carta a Fidel Castro, na qual advertia que isso induziria a uma intervenção estadunidense (certo exagero).
O que realmente ocorreu? Uma resposta indiscriminada
contra o que foi tomado pelo Estado militar-nacional como uma
“ameaça interna”, nada mais se revelou que pequenos grupos
armados incapazes de sustentar um combate com um pelotão, já
que nunca teriam armamento e treinamento “reais” para essa
“guerra”. Como igualmente não foi um conflito externo, fosse de
alta, média ou baixa intensidade, ou mesmo sequer um combate
regional. O que houve foram improvisações guerrilheiras em todo
o continente. Tais grupos não se tornaram atores fundamentais do
processo político, jamais estiveram presentes no interior da socie238
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