1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 239

DERROTA ANUNCIADA: LUTA ARMADA E O PCB (1967-1973) Luís Mir1 Revolução impossível Que concretude tem a revolução na vida brasileira? Uma história que não é história. Tivemos ensaios de uma teoria, de uma ideologia brasileira revolucionária? Não, redundaram todos numa não revolução.2 E a cavaleiro desse agir não revolucionário, essa vanguarda arrastou o povo sempre para algo que nunca foi material, concreto, legítimo.3 Não houve sequer um único experimento de originalidade revolucionária no Brasil no pós-guerra? Não, e me refiro a uma ponte, a uma superestrutura ideológica, de passagem, entre a Revolução de Outubro e as especificidades e os inte1 2 3 Historiador, pesquisador médico, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Autônoma de Madrid, autor de obras de referência como A Revolução Impossível – A Esquerda e a Luta Armada, Partido de Deus – Fé, Poder, Política, Genômica, 1º Lugar Prêmio Jabuti de Ciências da Saúde, e Guerra Civil – Estado e Trauma. O termo história se utiliza aqui como eventos coligados dentro de uma corrente temporal. Já o termo historiografia é tomado como referente à descrição e interpretação dos eventos históricos. Teoria é tomada aqui como análise do ideário revolucionário, dentro do campo racional. Também entendido como forma de pensar e entender fenômenos a partir da observação, o termo é aplicado a diversas áreas do conhecimento, sendo que em cada uma delas possui uma definição específica. Ideologia, oriundo de idéologie (1801), é uma acepção criada por Antoine-Louis-Claude Destutt, conde de Tracy (1754-1836) durante a Revolução Francesa. Significava a ciência das ideias e a sua prática na vida social. Segundo Karl Mannheim, a concepção moderna de ideologia nasceu quando Napoleão opôs-se ao grupo de De Tracy, que se opunha a suas ambições imperialistas, rotulando-os desdenhosamente de ideólogos. Nada há tão estranho ao marxismo e dele afastado como pretender dispor a evolução histórica das sociedades em geral dentro de uma sucessão predeterminada de sistemas econômicos, sociais e políticos, que se encontraria em todos os povos e que eles necessariamente atravessam. E é isso que fizeram e ainda fazem certos pseudomarxistas, sem ao menos se darem conta disso, quando prefixam para todo e qualquer país uma etapa feudal, que existiu na Europa precedendo o capitalismo, e de que esse capitalismo resultou ou a que sucedeu (Prado Júnior, 1966). 237