1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 234

que não se elegeria suplente de vereador em sua terra, mas substituiu o ditador graças a seu apoio. De Dutra ficou não só a cassação do registro do Partido Comunista e de seus deputados e senador, mas também o fechamento da central sindical Confederação dos Trabalhadores do Brasil (CTB) e 220 intervenções em sindicatos, assessorado por seu ministro do Trabalho, o industrial paulista Morvan Dias de Figueiredo.3 O herdeiro político de Vargas, João Goulart, substituiu Jânio Quadros que renunciou sonhando voltar aos braços do povo como novo ditador. A duras penas manteve-se presidente, descontado o breve regime parlamentar imposto pelos golpistas da direita. Mas não resistiu quando tiveram o apoio ostensivo do governo americano. Jango, como era conhecido, tentou o jogo duplo para sobre3 ERICKSON, Kenneth Paul, Sindicalismo no processo político no Brasil, São Paulo: Brasiliense, 1979, p. 67. Em adendo, o autor anota que “os dados de 1938-1960 foram extraídos das portarias ministeriais do Boletim do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, anos 5 a 10, Rio de Janeiro, MTIC, 1955-1960. (...) Os dados referentes a 1964 foram extraídos de um discurso do ministro do Trabalho, Arnaldo Lopes Sussekind, citados por Joaquim F. Otero, representante no Brasil da Federação Internacional dos Transportes, em carta a Pieter de Vries, secretário-geral da instituição, datada de 31 de julho de 1964, p. 67. Segundo o “brasilianista” John d. French, “em fins de 1947, o adido sindical dos Estados Unidos relatava que suas fontes do Ministério do Trabalho estavam convencidas de que qualquer enfraquecimento dos controles governamentais sobre o movimento sindical produziria inevitavelmente um movimento sindical dominado pelos comunistas. Um dia após o Decreto 23.046 (que impunha aos sindicatos manterem-se afastados de todos os movimentos políticos e sociais), as diretorias de trinta e seis sindicatos de São Paulo já haviam sido depostas. O movimento sindical do baluarte esquerdista de Santos foi atingido com especial rigor, com intervenção governamental em dezesseis sindicatos ao todo, seguido de catorze na cidade de São Paulo, quatro mais na região metropolitana, inclusive ABC, e dois no interior do Estado. Ao todo, o governo interviria em mais de um quarto dos sindicatos legalmente reconhecidos de São Paulo, especialmente os das áreas urbanas e industriais. As intervenções governamentais de 1947, segundo escreveu o estudioso norte-americano Robert Alexander, atingiram praticamente todos os sindicatos liderados por membros do Partido Comunista, bem como muitos que não eram comunistas, mas voltados para a militância. Em fins de agosto, estimativas oficiosas do Ministério do Trabalho indicavam que o governo já havia intervido em 170 sindicatos com 300.000 membros – mais da terça parte do total de membros de sindicatos. E a 10 de julho de 1947, a possibilidade de recurso legal contra a ação do governo terminou com uma decisão do Supremo Tribunal Federal brasileiro de que a autonomia sindical assegurada pela Constituição de 1946 “não (era) um direito claro e irrestrito” (O ABC dos operários. Conflitos e alianças de classe em São Paulo, 1900-1950, São Paulo: Hucitec, 1995, p. 225). 232 1964 – As armas da política e a ilusão armada