1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 225

Aqui cabe uma reflexão. A implantação do parlamentarismo em 1961 foi percebida como uma mera manobra golpista contra Jango. De fato, foi. Mas, as esquerdas perderam de vista que a solução poderia ter sido uma composição entre as esquerdas (PCB, PSB e PTB) e as forças centristas (PSD de Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, mais setores da UDN), com o objetivo de isolar as alas golpistas da UDN e das Forças Armadas. As esquerdas, então, não conseguiram enxergar, no horizonte mais amplo, que o fundamental era assegurar o calendário eleitoral, isto é, a manutenção da eleição presidencial de 1965 e nas posteriores eleições parlamentares, nas quais pudessem acumular forças para um programa negociado de reformas de base. Perderam de vista a centralidade da manutenção da democracia política para a luta dos trabalhadores. O isolamento das forças democráticas Após o plebiscito de 1963, o que se viu foi um processo de radicalização artificial, sem o correspondente apoio na sociedade e no Congresso Nacional, levando as forças governistas ao isolamento. As forças democráticas não perceberam, na época, que tal isolamento já começava a se verificar a partir da queda do primeiro gabinete parlamentarista. O primeiro ministério parlamentarista, liderado por Tancredo Neves, buscou expressar uma forte maioria do Congresso, com participação expressiva do PSD, em aliança com o PTB, UDN e PDC. O segundo gabinete, de Brochado da Rocha, contou também com a participação do PSB, mas com diminuição dos espaços para o centrista PSD, o maior partido do Congresso. Um estreitamento maior da base parlamentar se verificou no gabinete seguinte, chefiado pelo socialista Hermes Lima, composto pelo PTB e PSB. Após a volta do presidencialismo, Goulart nomeou um ministério com base no seu PTB e no PSB, cujos homens fortes eram Celso Furtado, no Planejamento, e os petebistas San Tiago 1964, 1974, 1984, 1994 223