1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 222
Derrotaram a tentativa de golpe. Mais, ainda: menos de dois anos
depois, derrotaram também, e, de forma expressivamente majoritária, o sistema parlamentarista de araque que se instituiu no
sentido de debelar a crise da posse de Goulart.
É, em princípio, uma democracia reforçada e em fase de
ampla institucionalização aquela de que se vale a nação para prosseguir sua caminhada na busca do progresso.
E essa caminhada se tentou fazê-la mais rápida, buscando-se
todo tipo de atalho, muitos empolgados por aquilo que os manuais
marxistas chamam de pressa burguesa.
Foi o que se viu. O Brasil consolidara sua política industrial
cujos alicerces foram lançados na era Vargas e ampliou-a com
sucesso à base da ação desenvolvimentista promovida por JK. Vivemos os anos dourados e pensávamos que o futuro almejado estaria
logo ali, ao dobrar da esquina. Tentou-se puxar a esquina para mais
perto, muitos esquecidos de que, com ela, viriam os dois lados da
rua, aquele virado para a esquerda, aquele virado para a direita.
Inicia-se novamente o duro aprendizado. Os comunistas do
PCB, participantes mas não protagonistas de todo o processo, tiveram juízo bastante para denunciar a estrutura fascista do golpe,
para lembrar, do mesmo passo, que o movimento tinha respaldo
popular e, como o fascismo de Mussolini, também respaldado pelo
povo italiano, somente seria alijado do poder se se contasse com
outro movimento de amplo apoio popular, deixados de lado os
sectarismos de qualquer ordem para se mirar o objetivo comum: a
anistia, a Assembleia Constituinte, as janelas novamente abertas
para que se arejasse o país com a brisa democrática. Fora, aliás, a
lição de Palmiro Togliatti, grande líder do PC italiano.
Foi mesmo um duro aprendizado, no espírito e na carne.
Prisões, clandestinidade, tortura, exílio, demolição de autênticas
lideranças democráticas, com sua substituição por uma leva de
próceres políticos inteiramente descomprometidos com o futuro do
país, mas capazes de se aproveitar de tudo que lhes era permitido,
criando, com isso, novas lideranças partidárias que, biônicas em sua
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1964 – As armas da política e a ilusão armada