1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 221
marchava com a família e com deus pela liberdade, mas – os ruralistas, por exemplo – enviavam manifesto aos militares pedindo a
deposição de Jango.
Num resumo: sem maiores preocupações democráticas
exibidas – ao contrário, deixadas ao largo – sem que, de fato,
alguém que a defendesse, nossa pobre democracia sucumbiu,
como não poderia deixar de ser. E a nação, olhando seja para a
esquerda, seja para a direita, não encontrou qualquer respaldo
para que se mantivessem íntegras as instituições democráticas.
Foi essa mesma nação matriculada, uma vez mais, na escola
do duro aprendizado democrático.
Escrevi uma vez mais. E o foi. Porque a primeira teve início
com a Carta de 1946. Derrubada a ditadura Vargas, a nova Constituição inaugurou, pela primeira vez em nossa história republicana
– e monárquica, também –, um curso de democracia, um curso
que gerou bons alunos, boas propostas e a quase certeza de que a
democracia estava entregue em boas mãos e plantada em terra
própria a seu cultivo e florescimento.
De fato e ainda que aos trancos e barrancos – mais aqueles
que a estes – o país enfrentou as atribulações do segundo mandato
varguista, impedindo sua expulsão do Catete. Morto, em 1954,
ocorreu o processo sucessório de forma normal, com a posse de
Café Filho, o vice de então. Vieram as eleições, realizadas de forma
tranquila, ainda que, para garantir a posse do escolhido pelo povo,
houvesse a necessidade de um movimento de tropas. Mesmo
assim, uns dias depois, alguns oficiais da Força Aérea sequestraram um avião – um apenas – e se decretaram em rebelião, numa
reedição das mais grotescas do episódio conhecido como “Os 18 do
Forte”. E sequer foram punidos, pois JK os perdoou.
Prossegue a caminhada democrática. Jânio Quadros é eleito,
em 1960. Sua renúncia, no ano seguinte, gerou mais uma tentativa
de golpe por parte dos ministros militares, que tentaram impedir a
posse de seu vice, João Goulart. Já iniciados e com algum treino
em democracia, os brasileiros foram à rua exigir a posse de Jango.
Democracia: o duro aprendizado
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