1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 220
DEMOCRACIA:
O DURO APRENDIZADO
Arildo Salles Dória1
E
m 31 de março de 1964, a democracia foi riscada do mapa
político brasileiro. Passados todos esses 50 anos do golpe,
ainda se cuida em apontar suas causas, suas lideranças e
seus propósitos. Tenta-se, essencialmente, apontar o anticomunismo como seu impulsionador, as elites do país assombradas com
o fantasma vermelho que, como na Europa do velho Marx, estaria
pronto a abocanhar o poder. E tudo, ainda, dentro do tabuleiro de
xadrez da Guerra Fria, o país não sendo mais que um simples –
mas considerado ameaçador – peão nessa peleja.
Gostaria de levantar outro raciocínio e tentar mostrar que as
causas políticas para o fracasso democrático decorreram mesmo
de nossa incapacidade de colocar em ação o pouco que, desde a
Constituição de 1946, vínhamos aprendendo nesse ofício.
Nos idos de 64, a nação se encontrou estonteada com o
pingue-pongue direita-esquerda que estava sendo obrigada a
acompanhar, na busca de uma solução para a crise. E um e outro
contingente defendiam suas propostas, apresentavam soluções
mas, em nenhum instante, se lembraram de defender o próprio
processo democrático, o mesmo que trazia embutido, dentro de si,
a solução procurada.
O grupamento de esquerda, marchando com as fanfarras de
Brizola à frente, pleiteava as necessárias reformas de base, que
deveriam ser feitas “na lei ou na marra”. Ou seja, colocavam uma
solução extralegal – na marra – para o problema. E a direita
1
Bancário aposentado, ensaísta, ex-diretor-geral da Fundação Astrojildo W&V