1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 211

Decepcionados com os novos tempos em que a acomodação política celebrada em megaeventos e regida pelos “métodos brutais da publicidade” (como diria Adorno), alguns antigos militantes refugiaram-se nas ONGs. Mas, assim fazendo, regrediram para uma forma de atuação molecular, “artesanal”, de âmbito social restrito e passível de reforçar a mentalidade antiestatal que se fez presente, como vimos, não só nos liberais como também no núcleo duro do “novo sindicalismo”. É nesse contexto de desânimo e perplexidade que os movimentos sociais assistem aos capítulos finais da era Vargas. 1964, hoje No momento em que o legado político de Vargas e Goulart parece viver o seu desfecho, as questões de fundo que propiciaram o Golpe de 64 ganham uma nova atualidade. Mas como falar em reformas estruturais e num novo modelo nacional-desenvolvimentista numa conjuntura internacional tão adversa? Internamente, as reformas estruturais encontram sólida oposição por parte de nossas elites. A terra, entendida como “reserva de valor”, tem sido objeto de uma acirrada disputa entre o governo e os latifundiários que exigem indenizações milionárias para “colaborarem” com a reforma agrária. As alianças feitas pelas administrações Lula e Dilma, em nome da governabilidade, impedem qualquer ação audaciosa de um governo manietado pelos compromissos assumidos. Um partido que durante três décadas recusou-se a fazer alianças políticas em nome da “ética” viu-se, subitamente, perante a necessidade de fazê-las. E as fez da pior forma possível. Além das elites, também a classe média abandonou o lulismo após a vitoriosa política de inclusão social. Buscando apoio no subproletariado, o lulismo ganhou uma poderosa base de apoio eleitoral. A classe média – como em 64 – alinhou-se com a direita, passando a destilar abertamente o seu preconceito social e racial. Meio século depois 209