1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 206
A união das diversas “oposições sindicais” com o grupo de
São Bernardo e outros sindicatos ditos “combativos”, passou a ser
conhecida como “novo sindicalismo” (o embrião da futura Central
Única dos Trabalhadores). A expressão “novo sindicalismo”,
evidentemente, não era gratuita: significava uma veemente recusa
do “velho” sindicalismo praticado no pré-64 e defendido, durante o
regime militar, pelos partidários da política de alianças (em especial, o PCB). Para se livrar dos equívocos do passado, o “novo sindicalismo” reivindicava o fim do atrelamento do sindicato ao Estado;
combatia o monopólio da representação outorgado pelo Estado,
isto é, a unicidade sindical, a admissão de um único sindicato por
categoria e base territorial (defendendo, em seu lugar, o pluralismo
sindical); criticava o poder normativo da Justiça do Trabalho (a ser
substituído pela livre negociação); pleiteava o fim do imposto sindical (almejando com essa medida pôr fim aos “sindicatos de carimbo”
e ao peleguismo etc.). Lula, numa fala infeliz, chegou a afirmar que
“a CLT é o AI-5 da classe operária”, igualando, assim, a rede de
proteção social criada por Vargas com o ato de força da ditadura
militar. A palavra de ordem “de costas para o Estado e de frente
para a sociedade civil” resume bem a orientação seguida pelo “novo
sindicalismo” no período – uma orientação antiestatal de perigosas
semelhanças com o liberalismo.
Durante toda a década de 80, a prática sindical da CUT
voltou-se para o confronto, fazendo da bandeira da greve geral o
divisor de águas entre o “novo sindicalismo” e o peleguismo. Tal
forma de atuação, como era de se esperar, despertou enorme entusiasmo entre os agrupamentos de esquerda alojados no PT e na
CUT. Não se percebia, na época, a diferenciação entre luta econômica e luta política. A exasperação das reivindicações econômico-corporativas e o palavrório obreirista eram vistos como se fossem
as provas evidentes de uma orientação política revolucionária.
Esse equívoco demorou a se dissipar. Tempos depois, os militantes
marxistas, surpresos e decepcionados, passaram a criticar a “direitização” da CUT.
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1964 – As armas da política e a ilusão armada