1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 162

processou como uma verdadeira “revolução”, a despeito da retórica dos militares.3 O mesmo autor chega a definir este processo como equivalente ao do Japão, referindo-se especificamente a este país antes e depois da Revolução Meiji, na segunda metade do século XIX. Nos vinte anos que se seguiram sob o regime militar, a morfologia da sociedade brasileira se alterou significativa e aceleradamente: a população se deslocou para as cidades grandes e médias, transformando a estrutura demográfica do país, que passou de rural a urbana (em 1960, 55% da população era rural; em 1980, a população urbana alcançou 67%, enquanto o crescimento vegetativo da década de 1970 tendeu à queda); a industrialização sofreu um impulso significativo, especialmente nas cidades do Sul e do Sudeste; o setor de serviços e a infraestrutura ampliaram-se, facilitando a integração regional; o sistema educacional foi reformulado e massificado, ampliando as possibilidades de acesso à população; enfim, o país se reestruturou, tornando-se uma sociedade imensamente mais complexa do que aquela que havia sido nas décadas precedentes” (SANTOS, 1985). Não há como deixar de caracterizar todo este processo, seguindo de perto a Luiz Werneck Vianna, como um “esforço agonístico de aceleração do desenvolvimento econômico”, garantido através de um comportamento típico da tradição do autoritarismo brasileiro. O regime militar conseguiu realizar esta estratégia pela via do pragmatismo, mantendo intacto o bloco agrário-industrial, induzindo a conversão dos latifúndios em empresas capitalistas e consagrando “o processo de criação de uma sociedade industrial de massas à americana”, sem realizar alterações significativas na forma do Estado. Mas, a mudança fundamental resultou da liberação dos instintos egoísticos da sociedade civil, como se afirmou antes. Atra3 Wanderley Guilherme dos Santos afirma que se admitirmos “semanticamente que por revolução entende-se uma reestruturação profunda da ordem econômica e da ordem social, mesmo quando não se alterem os estatutos jurídicos básicos das relações de propriedade (...), então será impossível deixar de concluir que a sociedade emergente após vinte anos de autoritarismo foi revolucionada de modo significativo” (SANTOS, 1985). 160 1964 – As armas da política e a ilusão armada