1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 143

AO APAGAR DAS LUZES Ferreira Gullar1 E stava eu na sucursal do jornal O Estado de S. Paulo, no Rio, quando chegou a notícia de que o general Mourão Filho, comandante da Quarta Divisão de Infantaria, sediada em Juiz de Fora, havia se sublevado contra o presidente João Goulart. Era o dia 31 de março de 1964. Imediatamente, entrei em contato com os companheiros do Centro Popular de Cultura (CPC), certo de que devíamos nos reunir naquela noite para ver que atitude tomar. Não demorou muito e juntamente com a direção da UNE (União Nacional dos Estudantes), decidiu-se convocar os artistas e intelectuais para encontrarmos um modo de resistir à tentativa de golpe. Nem fui para casa jantar. Fui direto para a sede da UNE, que ficava na praia do Flamengo. Não demorou muito e o auditório estava repleto de estudantes, artistas e intelectuais de esquerda. Um representante da UNE abriu a reunião, condenando o golpe militar e convocando todos a resistirem à derrubada do governo. Lá para as dez horas da noite, subiram ao palco três representantes do Comando Geral dos Trabalhadores Intelectuais (CGTI), que traziam informações importantes. Em nome deles, falou Nelson Werneck Sodré, afirmando que não ia haver golpe, uma vez que o general Mourão estava isolado. Garantiu que o presidente João Goulart contava com o apoio das três forças armadas. 1 Pseudônimo de José Ribamar Ferreira, poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista, ensaísta, e membro do Conselho Curador da Fundação Astrojildo Pereira. 141