1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 136

abril, esses comandantes militares mandam mensagem ao Congresso, indicando Castelo Branco para presidir o Brasil. Começa, a partir de então, o governo dos militares, herdeiros do velho 15 de novembro, uma ditadura que durou 21 anos. Veremos porque durou, e porque depois caiu. Antes, é preciso assinalar que esse golpe, que surpreendeu o governo Jango e toda oposição ao golpismo, teve características diferentes dos golpes tradicionais no continente da América, na África e na Ásia. Não tinha na liderança uma figura política ou militar carismática e populista para se tornar um ditador perpétuo, como já havia ocorrido no próprio Brasil, com Vargas. Não havia um condottiere. Sua liderança era coletiva, tanto que nenhum dos três dos comandantes que assinaram o AI foi escolhido para presidir o processo ditatorial. O escolhido foi Castelo Branco, um general de Exército da ativa. A partir de então, se sucederam Costa e Silva, Emilio Médici, Ernesto Geisel, João Figueiredo, todos generais de Exército, escolhidos pelo Alto Comando das Forças Armadas, que se transformara em colégio eleitoral. De modo que o regime militar não foi resultado de um golpe tosco, no estilo cucaracho, muito comum nos países latino-americanos de décadas passadas. Não obstante sua fúria repressiva, o evento estava fundamentado em uma elaboração sofisticada, considerando todo um cenário nacional e internacional da época extremamente tenso e de mudanças fundamentais, em consequência do surgimento do campo socialista, liderado pela União Soviética, resultado das vitórias do Exército Vermelho na 2ª Guerra Mundial, e em expansão após a vitória da revolução chinesa (1949) e, mais tarde, da revolução cubana (1959). Na verdade, o “pronunciamento militar” de abril de 64, com amplo apoio político e social, e com fundamentos programáticos, sinalizava, desde os primeiros instantes, que teria longa duração sob a liderança e comando dos militares. É preciso lembrar que, naquele momento, somente dois entes políticos tinham projetos de longo prazo para o país: o Partido Comunista e o estamento militar. Como já foi dito, a Escola Superior de Guerra começou sua 134 1964 – As armas da política e a ilusão armada