1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 131
Se, no plano nacional, o clima apresentava-se aparentemente
favorável para mudanças fundamentais, no plano externo, após o
tratado negociado entre os Estados Unidos e a União Soviética para
retirada dos foguetes atômicos de Cuba, observava-se uma importante mudança na arena internacional, decorrente do assassinato
do presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, em 22 de
novembro de 1963. Mudança que as forças reformistas não levaram em consideração.
E mais, no Brasil, antes ainda do plebiscito que restabeleceu
os plenos poderes presidenciais a Goulart, realizaram-se, em outubro de 1962, eleições em 10 estados onde os governadores tinham
mandatos de quatro anos, e a primeira eleição do governador do
recém-criado Estado da Guanabara, após a mudança da capital
para Brasília. Nessas eleições, as forças conservadoras elegeram
Adhemar de Barros em São Paulo, Carlos Lacerda na Guanabara,
Ildo Meneghetti no Rio Grande do Sul, e já contavam com Magalhães Pinto em Minas Gerais e Ney Braga no Paraná, além de
governadores alinhados com o golpismo nos estados do Nordeste.
Os resultados desses pleitos nos centros políticos e econômicos mais importantes do país mostravam que estava mudando
a correlação de forças em favor dos setores mais reacionários e
contrários às reformas. O golpismo, além dos grupos muito fortes
no interior das forças armadas, passava a contar com bases territoriais e forças políticas de peso nos principais estados da Federação. Além disso, a Escola Superior de Guerra ampliava seus cursos
e o número de vagas que oferecia para estagiários, dirigentes
empresariais da indústria, do comércio, da agricultura e até de
entidades da sociedade civil que se opunham aos comunistas,
inclusive sindicatos.
Esses estagiários passavam por uma verdadeira lavagem cerebral. As aulas se ocupavam de explicar em detalhe o projeto de construção do Poder Nacional Permanente, os fundamentos da “doutrina
de segurança nacional”, os elementos da guerra psicossocial e os
elementos operacionais para tornar vitorioso o projeto de Brasil
O golpe de abril e o 15 de novembro
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