1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 125
pela via institucional. Nova derrota, Vargas vence o pleito e as conspirações golpistas ganham fôlego. Esquenta o clima político interno,
intensifica-se a Guerra Fria, alimentada pela guerra da Coreia, pelos
movimentos de libertação nacional contra o colonialismo na Ásia,
na África, no Oriente e na América Latina. O Brasil fechara diversos
acordos com os Estados Unidos, inclusive um acordo militar, que
abre as portas do país para uma maior pressão do Pentágono e do
Departamento de Estado norte-americano. É em meio a essas novas
condições do Brasil e do mundo que surge um fato novo e relevante,
durante o governo Vargas.
A Escola Superior de Guerra, instituição de estudos e formulação de estratégias mantida pelas Forças Armadas, a partir de 1952,
passa a desenvolver estudos para elaborar um projeto de país nominado como Poder Nacional Permanente, acompanhado de uma
Doutrina de Segurança Nacional, que tinha como fundamento uma
complexa análise da presença do Brasil no mundo bipolarizado da
Guerra Fria e um maior alinhamento do país com os Estados Unidos,
no embate político e ideológico com a União Soviética. Estava,
portanto, baseado em premissas ideológicas e geopolíticas.
O entendimento do “estamento militar” da época era de que
o Brasil, pelo seu tamanho, recursos humanos e materiais de grande
potencial, teria que se preparar para exercer papel estratégico como
potência regional na América do Sul, com responsabilidades no
continente africano. Para desempenhar esse papel, o país teria que
se tornar, no curto prazo, uma grande potência, possuir um Estado
Nacional forte. Para tanto, era preciso criar um “ambiente de paz
social”, uma “economia saudável”, com as finanças públicas em
ordem, com uma moeda estável, com taxas de crescimento elevadas, onde não haveria espaço para “atos de perturbação da ordem”.
Esses estudos da ESG foram concluídos em 1960.
Vargas vai governando com precário apoio das forças armadas. Seu ministério tinha dois quadros representativos da burguesia
industrial de São Paulo – Horácio Lafer e Ricardo Jafet. Ele adota
medidas protecionistas que agradam os industriais, acabando com a
orgia de importações de bens de consumo que faziam concorrência
O golpe de abril e o 15 de novembro
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