1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 111

mobilidade urbana, por exemplo, mas cada ator fala para seu próprio público: não debate, não interage nem se comunica com os demais. Ninguém dialoga com o povo e a sociedade civil. Não se disputa a hegemonia. A péssima qualidade do debate democrático prova isto de modo cabal. O capitalismo que hoje se tem no Brasil foi fruto da colaboração real (não intencional e não consciente) das duas principais forças políticas do país, o PSDB e o PT. Houve muito, é verdade, de imposições da revolução tecnológica (informacional-comunicacional) e da globalização do capital, que comprimiram o campo das escolhas governamentais. Mas o protagonismo político existiu e foi importante. PT e PSDB, porém, em vez de explorarem a parceria, optaram por declarar guerra um ao outro, com o propósito de ocupar espaços de poder e salientar, mediante uma retórica simplista, exagerada e caricata, aquilo que os distingue. Estabeleceram um acordo informal: não coopere comigo que contigo não cooperarei. Deixaram assim de contribuir para completar a construção que empreenderam, pouco fizeram para suavizar o capitalismo e propor à sociedade outro modo de produção e de organização econômico-social, outro padrão de convivência, outro pacto político. Se convergências explícitas e programáticas entre os dois pilotos tivessem havido, as coisas teriam sido melhores. Haveria um bloco reformador hoje no país, ao qual se poderiam vincular o PSB, o PSol, o PPS, o PCdoB e outros partidos democráticos. Sua força magnética seria tanta que tenderia a isolar os setores retrógrados e a empurrar o PMDB de volta às origens. Wishfull thinking, é verdade. Mas não custaria nada tentar algo nessa direção, ao menos como sinalização de um futuro possível. A sociedade e o político Um padrão de desenvolvimento se fixou ao longo do ciclo político mais recente, demarcado pelo crescimento modesto, por alguma indução estatal, pela abertura aos mercados e pela busca quase obsessiva da inserção do país na economia mundial e no A pedagogia do passado como construção do futuro 109