1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 88
levar ‘à ruptura do atual equilíbrio de forças e à superação dos métodos políticos convencionais’” (esta expressão entre aspas é do
próprio Furtado – RS; cf. PÉCAUT, op. cit., p. 226). O autor segue
com sua proposição: “Claramente se entende que as opções econômicas do regime supõem recurso à violência: o retrocesso, o arrocho
salarial e o rompimento com o nacionalismo econômico só podem
se realizar a esse preço”. Entretanto, Pécaut ressalva que “há ainda
uma grande distância entre esta argumentação e a que prevalecerá
após 1968 e que fará do ‘Estado autoritário’ um componente funcional e necessário ao modo de desenvolvimento: o plano político será
então totalmente reduzido ao plano econômico” (Ibidem).
Estão aí, muito resumidamente, alguns traços da apresentação de Pécaut de uma “etapa da utilização da ‘causalidade estrutural’”, como ele chama, pois mais um passo será dado com a difusão
da teoria do “desenvolvimento do subdesenvolvimento”, elaborada
por André Gunter Frank com base na sua interpretação das relações entre economias periféricas e o capitalismo mundial. Pécaut
observa que, a partir de 1965-1967, esta fórmula se expande como
um “rastilho de pólvora”), e também recebe complementações,
como a da tese de Rui Mauro Marini segundo a qual “a integração
do Brasil na órbita do imperialismo conduz ao agravamento da lei
geral da acumulação capitalista, isto é, a absolutização da tendência ao pauperismo, levando ao estrangulamento da própria capacidade de produção do sistema” (Marini, citado de texto de 1969; cf.
PÉCAUT, op. cit., 228).
Pécaut observa que, entre 1967-68, chega a vez das “variações
da teoria da dependência”. Mesmo com o livro de Fernando Henrique
Cardoso e Enzo Faletto Dependência e desenvolvimento na América
Latina, situado no polo oposto das teses de Gunder Frank, no clima
daqueles anos, a teoria da dependência “devia circular entre o público
intelectual como uma condensação cômoda de todos os temas precedentes: bloqueios estruturais, subdesenvolvimento acompanhando o
desenvolvimento imperialista e o pauperismo”.
Visto do plano das estratégias, o espaço público intelectual se
divide. Pécaut indica as duas perspectivas da esquerda intelectual
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