1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 288
que está em guerra. As organizações guerrilheiras não souberam
avaliar a intensidade da repressão que se avizinhava e continuaram
a atacar, esquecendo-se de uma das regras mais importantes da
guerra de guerrilhas: quando o inimigo ataca, a guerrilha recua.
Poder-se-ia contra-argumentar que desde a promulgação do AI-5
as forças repressivas haviam começado a reprimir violentamente
não só no plano político como também no plano militar. Isto é realmente verdade. Só que a reação não conseguira consenso naquela
época, e a atuação das forças repressivas era entravada pelas
discordâncias internas como, por exemplo, a obstinação de Costa e
Silva com a redemocratização, mesmo depois de 13 de dezembro de
68 (edição do AI-5). Agora, com a deposição dele e a indicação de
Médici, todas as condições estavam criadas no campo inimigo para
passar ao ataque. O não entendimento disso custou caro ao movimento guerrilheiro.
Aprofunda-se, então, o processo de intensa repressão e
começam a produzir-se inúmeras baixas entre os militantes revolucionários da ALN, da VPR, do MR-8. As organizações guerrilheiras, não entendendo que o inimigo passara a atacar com força
total, continuam atacando. Não ordenam o recuo organizado, que
permitiria aproveitar politicamente todo o trabalho revolucionário desenvolvido até então e que tivera profunda repercussão e
obtivera aprovação e apoio das massas. Naquele momento,
mantendo assim a iniciativa com o desenvolvimento de um trabalho político e organizativo mais profundo nas fábricas, nas fazendas, nas universidades, nas favelas, nas empresas comerciais e
nos bancos. E, concomitantemente, poder-se-ia desenvolver um
trabalho mais intenso de educação política dos jovens militantes
recrutados recentemente. Esperar-se-ia, assim, o inimigo “dentro
de casa”, desenvolvendo um trabalho de capitalização política
para organizar os setores de massas urbanas favoráveis à luta
armada, reestruturando as fileiras com educação política, ideológica e militar dos quadros e preparando-se para atacar quando o
inimigo se desgastasse de reprimir o irreprimível, de procurar
algo que não podia ser encontrado. Enfim, naquele momento, era
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